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Folha corrida

04.05.07

por Rodrigo Campanella

Ventos da Liberdade

(The wind that shakes the barley, Alemanha/Itália/Espanha/França/Irlanda/Reino Unido, 2006)

Dir.: Ken Loach
Elenco: Cillian Murphy, Padraic Delaney, Liam Cunningham, Roger Allam, Gerard Kearney

Princípio Ativo:
em posição

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Ken Loach deve ser o tipo de diretor que muda de canal quando a televisão começa a louvar ‘a magia do cinema’. Porque “Ventos da Liberdade†é prova feita de que ele não acredita nisso. Pelo menos, não na magia rasteira (e funcional) com que o cinema ataca grande parte das vezes: uma história mixuruca revelada na tela como verdade absoluta que deixa o espectador rendido a um mundo sonhado, plástico, menos complexo.

Nesse filme sobre a origem da luta armada do Exército Republicano Irlandês, o IRA, fica claro quanto o cinema de Loach depende de uma história. As fichas estão todas lançadas na qualidade do conto, mais do que na forma de contar. A forma serve é para transformar uma história em um ponto de pressão, onde o espectador é obrigado a (se) revelar no que acredita, dentro e fora da sala de cinema. Loach não acredita na ‘magia’, mas na potência do cinema.

“Fora do Brasil, o filme foi criticado por imprimir à história um tom de dramalhão e, sobretudo, por tomar partido histórico. Mas que mal há em tomar partido?†Ana Paula Sousa, na Carta Capital nº439

“Ventos†chega quase um mês atrasado a Belo Horizonte. Muito já foi dito desde a estréia no Brasil, e outra tonelada desde que colheu a Palma de Ouro em Cannes 2006. Não adianta assistir ou escrever sobre ele fingindo que nada se sabe. Fui assistir o filme seriamente desanimado, com a cabeça preenchida por comentários de que “Ventos†levou Cannes por ato político do festival. Realmente, só pode ser.

“Desses improvisos (dos atores) nasce um tipo de realismo inconfundível, belo e áspero, como numa seqüência de discussão política em que todos tomam a palavra e os lados se definem†Cadão Volpato, na Bravo! nº116

A decisão de Cannes foi política porque cada enquadramento em “Ventos†é político. Seu compromisso não é fazer eu e você entendermos porque o IRA se tornou uma engrenagem assassina no futuro, mas esclarecer que não são credenciais que definem alguém, mas o que se faz e como se vê. É preciso assumir o lado em que se está – ninguém entra em um filme como uma folha em branco.

“O problema é o zelo socialista arcaico que o diretor ressuscita, aquinhoando culpa pelo conflito aqui e ali†Isabella Boscov, na Veja nº2004

A história do médico irlandês Damien, que passa de curador a assassino, de rebelde a ‘traidor’, é tensionada por todos os lados pelas mãos de Loach. É ela o fio que desenrola a sabedoria de que fazer ou comentar ou assistir um filme é um ato político, porque carrega uma palavra que hoje tem cheiro de peste: responsabilidade.

E, por muito tempo, o ódio foi a herança.

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