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Realmente

31.05.07

por Rodrigo Campanella

Inesquecível

(Brasil, 2007)

Dir.: Paulo Sérgio de Almeida
Elenco: Murilo Benício, Caco Ciocler, Guilhermina Guinle, Fernanda Machado

Princípio Ativo:
papelão

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Uma parte do cinema nacional feito hoje sofre de uma paixão devastadora e não-correspondida com o cinema mudo. No tempo em que o único som do filme era aquele que vinha da orquestra ou da pianola debaixo da tela, os letreiros entre uma imagem e outra faziam o lugar das falas. Sem captação de som, bastava mexer a boca na hora de gravar e dizer ‘você é a jararaca mais nojenta que eu conheço’ para os letreiros exibirem “ah, como eu te prezo mais que a vidaâ€.

Só que alguns filmes continuam sendo rodados no esquema de antes. Pior ainda, em “Inesquecível†a qualquer-coisa falada reproduz o que você já está assistindo. É um cinema que tenta estar juntinho da próxima grande revolução: o rádio. Dá para assistir de olho fechado à história do canastrão famoso (Benício) que descobre o melhor amigo (Ciocler) e a esposa (Guinle) apaixonados. Sem conseguir decidir sobre um caso a três, prefere se matar e deixar de presente sua assombração impressa em película.

O formato radiofônico remete na verdade ao teatro, e isso explica muito do desconforto (comichões de insatisfação nas pernas e braços fazem parte) de ver o filme. Numa sala teatral, há uma distância física entre público e palco. Se gestos, vozes e expressões dos atores não forem mais exagerados que o tom normal, quem está no meio da platéia não vai ver ou entender nada.

Mas como “Inesquecível†é exibido em uma tela razoavelmente grande, você fica apenas curioso para olhar para trás e enxergar para quem aqueles atores estão gritando tanto, abrindo tantos os braços e se remexendo, e explicando di-da-ti-ca-men-te cada levantada de sobrancelha. Benício, Ciocler e Guinle parecem querer entregar que tudo foi filmado num estúdio estilo Faustão, onde atrás das câmeras havia um público pronto para reagir aos avisos luminosos de “Palmas!†ou “Ooohhâ€.

Mas o que sobra em Expressão! falta em alguma emoção de verdade, ou pelo menos ousadia. Fica em aberto o porquê de se escolher uma história interessante para arriscar apenas as migalhas que são projetadas. A cena final ganha de longe o troféu de momento constrangedor no cinema BR 2000-2007.

O filme soa ainda mais fora do lugar porque, vez ou outra, pisca com a possibilidade de jogar os três protagonistas juntos na cama jogando truco com a desgraça, ou avançar para onde o mistério do cinema – essa máquina estranha onde os mortos andam – pode levar. Mas decide ficar ali, tocando película no meio campo, lançando sobre tudo o mal último em que o cinema se afunda: a síndrome dos panos quentes.

Ciocler e Benício: Se nada mais resta, vamos ao tango argentino.

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