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Minha morte sem mim

07.10.07

por Rodrigo Ortega

Kurt Cobain: Retratos de uma ausência

(Kurt Cobain: About a Son, Estados Unidos, 2006)

Dir.: AJ Schnack
Elenco: Kurt Cobain

Princípio Ativo:
Lítio

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Não acho que nossa visão musical das coisas seja muito diferente das de outras bandas que apareceram na mesma época que o Nirvana. Não somos especiais por termos sofrido o mesmo tipo de dano que nossos pais e nossa sociedade nos causou. Só tivemos mais atenção porque nossas músicas têm ganchos e grudam na cabeça das pessoas.

As frases saem com um som meio estranho, provavelmente da gravação em uma fita cassete fuleira, pelo jornalista Michel Azerrad. Kurt Cobain fala durante 96 minutos, com raras interrupções do jornalista e de Courtney Love, que pede aos berros no andar de baixo que ele não se esqueça de descer com a mamadeira de Frances, filha do casal. Dos ex-colegas de banda não se ouvem nem os instrumentos, já que o Nirvana não está na trilha do filme.

Não há imagens do depoimento, nem qualquer imagem em movimento de Kurt. A câmera passa pelos lugares por onde ele esteve mostrando só o vazio ou pessoas anônimas, como alguém que sabe que não vai encontrar o que quer, mas procura mesmo assim. Ouvir gravações de um defunto acompanhadas de imagens de sua vida sem ele é uma experiência assustadora. O filme escapa de ser um caça-níqueis de pura curiosidade mórbida pela força que ainda tem a presença de Kurt Cobain, mesmo enterrado no fundo de uma fita Basf.

Desde a descoberta de um transtorno bipolar aos nove anos até a vontade de fazer música fora do Nirvana após o estouro da banda, Kurt fala de tudo ("Nunca mais vou ser tão aberto assim em uma entrevista, as pessoas não têm nada a ver com minha vida", esbraveja). Ele discursa até sobre seu próprio discurso: “Eu sou tão sarcástico às vezes e em outras sou tão vulnerável e sincero, e é mais ou menos assim que a maioria das pessoas da minha idade é. Sarcásticas numa hora e carinhosas na outraâ€.

Eliminar a figura do rockstar sempre foi o objetivo de Kurt Cobain. No trecho inicial deste texto e em outros momentos do documentário ele fala sobre ser uma pessoa comum e sobre sua repulsa ao mundo das “celebridadesâ€. O músico comenta com ódio as fofocas da imprensa, especialmente o boato de que ele e Courtney usaram heroína durante a gravidez de sua filha. Apesar de não abordar o suicídio, o filme ajuda a entender porque Kurt, quando se transformou inevitavelmente numa celebridade, levou ao pé da letra seu objetivo de eliminar a figura do rockstar.

Um menino anônimo qualquer, pra preencher o vazio do Kurt

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