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Sundance dos infernos

29.10.07

por Rodrigo Campanella

Jogos Mortais IV

(Saw IV, Estados Unidos, 2007)

Dir. Darren Lynn Bousman
Elenco: Tobin Bell, Costas Mandylor, Lyric Bent, Scott Patterson

Princípio Ativo:
picotes narrativos

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Na entrada dos cinemas onde o quarto capítulo de "Jogos Mortais" estivesse em exibição, poderia ser erguida uma faixa contando a seguinte verdade:

"Por outros compromissos assumidos, não tivemos tempo de criar uma história para esse ano, mas o lançamento do quarto filme já estava programado. Esperamos que vocês se divirtam.

A direção (e roteiristas)"



Dizer que alguém vai ver "Jogos Mortais" pela história deve ser mentira. Desde o primeiro filme, o que a franquia vende é uma dose farta de xarope de groselha espirrando de todo tipo de violação física. Alguns dirão que é um filme violento para um mundo violento, mas é bom não perder de vista que o esquema aqui é fazer dinheiro gastando pouco. O resultado é essa grife-podreira que nunca consegue (ou pretende) transformar sua violência em algo realmente incômodo e transgressor.

Nesse volume, há uma mudança concreta. Com trinta e poucos minutos, quase toda a violação física do pacote já foi exibida, incluindo uma autópsia filmada sempre do ângulo onde aparecem mais visceras - talvez uma cena a ser vendida para vestibulares de medicina que queiram testar a resistência estomacal dos candidatos. Passado esse tempo, "Jogos IV" se concentra em armar e desvendar sua própria armadilha, em duas partes.

A primeira, "a história", é uma mistura de flashbacks com a história do psicopata Jigsaw, o cérebro pro trás dos jogos sádicos e "salvadores", e da busca em paralelo de dois detetives, buscando desvendar antes do tempo-limite a última armadilha do maníaco. A segunda parte, mais interessante, é o modo como essa história vai sendo contada e se formando na cabeça do espectador

Num mundo ideal, "Jogos IV", com seus detetives arrogantes e canastrões, suas histórias arrogantes e canastronas e sua direção simplesmente canastrona seria uma comédia pastelão. Preste atenção como, editado de um outro jeito, seria um filme para dar risada. Nesse mundo aqui, "Jogos IV" talvez seja uma versão industrial do Sundance, o festival americano de cinema que incentiva os filmes e diretores mais ou menos independentes da indústria.

Na franquia de "Jogos", milhões de espectadores ao redor do mundo estão pagando para ver um diretor (Darren Lynn Bousman) e uma equipe de roteiristas e atores aprenderem bem aos poucos a fazer filmes, na base da tentativa e erro - sem lá muito talento, até agora. Mas, pelos menos nesse capítulo, o cartaz do filme já traz o aviso: é uma armadilha. E o espectador sai do cinema sabendo que, literalmente, foi enganado. Talvez até sorria com isso, e essa é a melhor parte.

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