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A identidade Clayton

10.12.07

por Daniel Oliveira

Conduta de risco

(Michael Clayton, EUA, 2007)

Dir.: Tony Gilroy
Elenco: George Clooney, Tom Wilkinson, Tilda Swinton, Sydney Pollack, Austin Williams

Princípio Ativo:
sujeira.

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Existe uma linha

onde devíamos andar. Michael Clayton (Clooney) está tão longe da linha que nem consegue mais vê-la. No mundo em que ele transita, não há certo, errado, legal ou ilegal. Existe um serviço.

Eu não sou um milagreiro, sou um faxineiro.

E como o limpa-sujeiras dos clientes de seu escritório de advocacia, Clayton é admirável. Ele é o jogador frio na final do campeonato, capaz de controlar a equipe e organizar a jogada para virar a partida nos dez segundos finais. Sem envolvimento, questionamento moral nem qualquer outro sinal de fraqueza humana.

Eu sou o cara que você compra, não o cara que você mata.

Porque, como ser humano, o protagonista de “Conduta de risco†não é tão bom assim. Sua vida se resume a promessas não-cumpridas ao filho, lutar contra seu vício em jogo e lidar com a dívida da falência do bar que abriu com o irmão drogado.

Mas é esse seu lado B que lhe permite acreditar que não se tornou, ainda, uma mera máquina a serviço de sua firma. ‘Sorte’ que não tem seu colega, o advogado Arthur Edens (Wilkinson, impecável). Ao descobrir que a empresa que estava defendendo – ao custo de toda sua vida pessoal – é mais podre do que ele está disposto a aceitar, Arthur tem um surto que o pragmático Clayton pretende resolver entupindo-o de antidepressivos.

Eu não sou o inimigo.

Mas a amizade dos dois torna a tarefa pessoal demais. E ao provar que o diabo pode ter uma crise moral – já que Deus não está nem aí para a bagunça aqui embaixo – Edens dá ao ‘faxineiro’ a chance de conhecer seus próprios limites.

Você faz advogados pensarem que você é um policial, e policiais acreditarem que você é um advogado. Você os engana, mas não a si mesmo.

E no processo de um homem se desfragmentando para saber, afinal, o que ele é, “Conduta de risco†deixa de ser mais um thriller corporativo. E a jornada proposta pelo diretor Tony Gilroy atrás da identidade Clayton não é mais fácil do que a que ele ofereceu nos roteiros da trilogia Bourne.

Nos seus diálogos densos, e quase ininterruptos, o filme poderia ter ficado pretensioso e cansativo. É o ótimo elenco - além de Clooney e Wilkinson, Tilda Swinton confunde moralidade, equilíbrio emocional e ambição na executiva Karen Crowder – que, nos enigmáticos e raros silêncios, dá nuance e vida aos personagens.

E junto com Gilroy, os três nos convidam a decifrar aquelas pessoas. Não é à toa que o filme termina em um close silencioso, que pergunta se o dono da expressão perscrutada vai ter ou não coragem de sair daquele mundo frio, azulado e podre para um com um pouco mais de luz e ar puro. Se é que um mundo assim existe.

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