Mais estranho que a ficção
07.03.08
por Daniel Oliveira
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$O$ Saúde
(Sicko, EUA, 2007)
Dir.: Michael Moore
Princípio Ativo: death & taxes
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Se Diogo Mainardi usasse um boné de beisebol e fosse um gordo fofinho realmente engraçado (e não um magrelo mal humorado que tenta ser), ele seria o Michael Moore dos direitistas. Só que, em vez de documentários tendenciosos e panfletários que rendem milhões, o brasileiro (?) faz desabafos que fingem ser colunas jornalÃsticas em uma revista-propaganda que finge ser jornalismo.
Porque o que Michael Moore faz não é jornalismo, e talvez nem seja documentário - mas é muito divertido. E é algo que precisa ser feito, visto e ouvido – nem que seja para todo mundo discordar – simplesmente pelo fato de nos fazer pensar a respeito.
Em “$O$ Saúdeâ€, o inimigo número um da imparcialidade comete ao menos uns 20 julgamentos tendenciosos e incompletos no seu ataque à máfia assassina dos planos de saúde privados nos EUA. Ao comparar os sistemas médicos públicos canadense e francês ao norte-americano, por exemplo, Moore deixa de levar em conta que os dois paÃses têm menos da metade da população do Tio Sam – o que torna a saúde estatal bem mais administrável e eficiente.
É possÃvel questionar mesmo o recorte exclusivamente negativo nos EUA e os comentários somente positivos no Canadá e na França. É claro que existe gente satisfeita no primeiro caso e infeliz no segundo. Porém, mais uma vez, “$O$ Saúde†não é jornalismo. E o princÃpio que sustenta a crÃtica de Moore é perfeitamente correto: saúde não deve visar lucro.
Uma empresa pode (e deve) lucrar vendendo tênis, TV’s ou colares de diamante. Mas saúde, não. Não se pode negar tratamento médico a uma pessoa simplesmente porque isso melhoraria os Ãndices econômicos da empresa. É essa lógica que o cineasta desconstrói, com muito sarcasmo (e aparecendo em frente à s câmeras menos que de costume), ao mostrar o funcionamento dos planos sempre no sentido de negar o pedido do paciente - e ao explicar como esse sistema se mantém com as folhas de pagamento dos lobbistas dos planos aos deputados.
Moore constrói esse mosaico com dinâmica e humor - marca registrada de seus filmes, assim como os casos estapafúrdios. “$O$ saúde†não tem tantos desses, mas as tiradas do cineasta exploram ao máximo seus personagens (Nós somos americanos, a gente invade os outros paÃses quando precisa). A trilha melodramática nos relatos dos doentes também se encarrega disso – demais, até. Nesses momentos, ou quando Moore conta a história de um cheque anônimo enviado por ele no final do filme, você vê o quão fdp Moore é e como ele não tem limites para demonstrar suas teorias.
Dá raiva. Mas é divertido e pertinente como pouca coisa no cinema hoje em dia.
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Moore ficou chateado de não o terem chamado para “Paris, je t'aimeâ€.
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