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All the author’s men

20.03.08

por Daniel Oliveira

O engenho de Zé Lins

(Brasil, 2007)

Dir.: Vladimir Carvalho
Depoimentos de: Carlos Heitor Cony, Ariano Suassuna, Rachel de Queirós, Walter Lima Jr.

Princípio Ativo:
reverência

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Não há nada errado em usar o cinema como veículo para reverenciar e reconhecer a importância de uma figura do universo cultural, político, social etc. brasileiro ou internacional. Só que a decisão, o desejo de fazer um filme deve existir antes da vontade de homenagear – caso contrário, o produto final será mais próximo de um daqueles vídeos educativos do governo para escolas públicas do que de um documentário capaz de gerar conflito e discussão.

É o que acontece com “O engenho de Zé Linsâ€. O resgate de José Lins do Rego, escritor um tanto marginalizado no ensino escolar e eclipsado por nomes como Graciliano Ramos e Guimarães Rosa, feito pelo documentarista Vladimir Carvalho é inquestionavelmente relevante. Ele segue a vida do autor desde sua infância, analisa o impacto de suas principais obras – como “Menino de engenho†e “Pedra Bonita†– e ensaia uma polêmica ao tratar de sua relação com Gilberto Freyre (apesar de não apresentar uma única opinião divergente no ‘debate’), até chegar à sua morte prematura e sofrida aos 56 anos.

E arregimenta um time de respeito para isso – desde familiares perdidos na sua cidade-natal até papas da literatura, como Carlos Heitor Cony, Rachel de Queirós e Ariano Suassuna. Assistir a essas figuras tão gabaritadas contarem seus ‘causos’ e declararem sua admiração pelo escritor não deixa de ser envolvente, especialmente pelo fato já citado de conhecermos tão pouco sobre ele.

O documentarista, porém, parece se contentar somente com a estirpe de seu material e acrescenta pouco, cinematograficamente falando, a ele. Quando um entrevistado diz que Lins do Rego pensou em ser maquinista e Carvalho joga a imagem de uma maria-fumaça para ilustrar, fica a impressão de algo muito primário e pouco desafiador. E desperdiça tempo com histórias equivocadas. Como no terceiro ato, com o protagonista da versão cinematográfica de “Menino de engenho†- o documentário é sobre o autor, e não sobre o filme. Ou no relato da morte de Lins do Rego, visceral, porém extenso demais.

Resta a paixão do escritor pelo Flamengo e os casos surgidos daí para dar um sal ao longa. Mas falta um pouco de pimenta em todo o incenso lançado sobre a sua figura. Na falta dela e de uma assinatura cinematográfica de Vladimir Carvalho, “O engenho de Zé Lins†assume um tom didático e pregador demais que simplesmente parece confirmar a fórmula para ter uma cine-biografia no Brasil:

1- tenha um trauma de infância,
2- viva uma vida boêmia,
3- seja incompreendido e pouco incensado em vida,
4- tenha uma morte sofrida e/ou trágica.

Uma hora cansa.

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É meu maior prazer vê-lo brilhar, seja na terra, seja no mar...

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