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Problema nosso

31.03.08

por Rodrigo Campanella

Juízo

(Brasil, 2008)

Dir.: Maria Augusta Ramos

Princípio Ativo:
futuro pelo ralo

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Indignação (indigna)

A câmera mira as audiências em um Juizado da Infância e Juventude do Rio de Janeiro, onde menores de dezoito acusados de algum crime são ‘julgados’. Com aspas, porque a intenção do Juizado não seria condenar menores a pagar por seus crimes, mas oferecer uma chance de recuperação social nos centros de internação, estilo Febem.

As cenas gravadas no Instituto Padre Severino, um dos centros, desmontam silenciosamente a tese da recuperação. Tratados já como bandidos, os menores chegam de camburão, filmados por trás de uma grade. O chão imundo e alagado leva até as camas. Quem dorme nos estrados sem colchão? “Ninguém, porque ali passa um montão de ratoâ€, um deles relata para a funcionária que inspeciona o lugar. Sem algo para fazer, sobram tédio e desconforto numa cela úmida.

Indignação (é de alguém)

Essas são as imagens que a diretora Maria Augusta Ramos escolhe, em seu segundo choque contra o sistema judiciário brasileiro. O documentário anterior, “Justiçaâ€, focava um Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro.

“Juízo†exibe e não exibe o sistema judiciário nacional. O retrato se restringe a dois pontos dentro da justiça do Rio de Janeiro. Cabe a quem assiste fazer a ligação com a realidade da (in)justiça para menores no resto do país, a partir do que se sabe principalmente pelos jornais.

Nas imagens colhidas, a diretora expõe sua alta carga de opinião em torno desse sistema. Ninguém é convidado para dar um depoimento porque as afirmativas não precisam ser colocadas na voz de outros. Confiar nesse retrato ou enxergar nele manipulação é opção do espectador, sem especialista para ‘confirmar’ a versão.

Indignação (indigna, e nação)

Como os menores acusados de algum crime não podem ter a identidade exibida, eles são interpretados por atores quando a câmera filma de frente. De costas, são realmente os acusados. Não dá para notar a diferença.

Ao contrário do que possa parecer, “Juízo†não é um filme pesado. A montagem é dinâmica, as cenas muito bem escolhidas e nem a ‘moral da história’ descamba para o melodrama. Equipe e diretora fazem enquadramentos, iluminam cenas e editam som de um modo que torna até belo, no cinema, o que é horrível na realidade.

Se a indignação provocada por “Juízo†durar pouco, é preciso relembrar o que o Skank cantava há mais de uma década, sobre a indignação ser mosca sem asas, que não vai além da janela das nossas casas. “Juízo†ao menos tenta deslocar e despertar o olhar para um massacre tão conhecido quanto ignorado.


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Sem luzes. Nem túnel

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