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Parque dos dinossauros

05.04.08

por Daniel Oliveira

Shine a light

(EUA, 2008)

Dir.: Martin Scorsese
Elenco: Mick Jagger, Keith Richards, Ron Wood, Charlie Watts, Martin Scorsese, Jack White, Christina Aguilera, Buddy Guy, Bill Clinton

Princípio Ativo:
a luz própria das estrelas

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Não sou fã de DVD’s de shows. Com 23 anos, pulmões ainda cheios de ar (e uma coluna arrebentada), acredito que performances ao vivo devem ser conferidas ao vivo. Mas se tivesse que escolher duas pessoas para dirigir e decupar um show a fim de torná-lo uma experiência músico-cinematográfica notável, elas seriam com certeza Martin Scorsese e o diretor de fotografia Robert Richardson (oscarizado por “O aviadorâ€).

“Shine a lightâ€, ao contrário da investigação personalística de “No direction home†e mais próximo de “The last waltzâ€, não é um documentário e sim o registro – impecavelmente fotografado e montado - de um show da turnê A bigger bang dos Stones. Considerando o cacife dos dinossauros envolvidos, claro que há um algo mais. Scorsese, fã do grupo que é, aproveita os mínimos espaços para explorar a personalidade de seus membros, o que rende os melhores momentos do filme.

Como a elegância discreta de mordomo inglês do baterista Charlie Watts, que parece prestes a tirar uma bandeja de trás do bumbo, a qualquer momento, e servir um chá aos companheiros. Ou o magnetismo vitalício da pélvis de Mick Jagger e o rebolado mais famoso do rock desde Elvis. Um dos momentos mais legais, porém, é durante a interpretação de Keith Richards para Connection, que Scorsese aproveita para intercalar com entrevistas/comentários sobre a relação do guitarrista com seu parceiro Ron Wood. O dinamismo e a descontração dos dois deixam o público mais próximo do espetáculo.

E faltam mais montagens assim – porque, verdade seja dita, a não ser pelo fã que sabe todas as músicas de cor, é quase impossível não devanear em algum ponto e pensar na lista das compras da manhã seguinte. Há uma participação inusitada do clã Clinton no início, e até uma tentativa de Scorsese de interpretar a si mesmo, mas que logo desaparecem em favor do show.

E durante ele, o que impressiona é a qualidade técnica de quem tem acesso às melhores câmeras de alta definição do mercado – operadas por nomes como Emmanuel Lubezki, Stuart Dryburgh e Richard Elswit. Com eles, o diretor filma Jagger como um touro indomável, consegue um longo e belíssimo close do convidado Buddy Guy; e finaliza em uma explosão de luz de encher os olhos – cortesia digital, já que em película seria simplesmente um brancão estourado.

No final, Scorsese me convenceu de que é melhor ver os Stones na telona do cinema do que com milhões de pessoas em Copacabana. E nem precisava de tanto virtuosismo. Em casos assim, minha idade passa a ser a de um dinossauro milenar. Ainda que, óbvio, eu não seja um T-Rex respeitável, como Scorsese e os Stones.

Mais pílulas:
- Não estou lá
- A bigger bang
- A última noite
- Navegue por todas as críticas do Pílula

Sim, tem um loura ali no meio. E, sim, é a Christina Aguilera.

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