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Belo roteiro, atuação mediana

19.06.08

por Rodrigo Ortega

Violins - A Redenção dos Corpos

(Monstro Discos, 2008)

Top 3: "Manobrista de Homens", "A Guerra Santa", "Terrorista Justo".

Princípio Ativo:
1994

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Violins é uma banda monumental. A Redenção dos Corpos, quinto disco do quarteto goiano, é uma coleção de pérolas e de bijouterias - grandiosas de qualquer forma. Nada disso vem de uma grande divulgação ou uma grande gravadora. Por conta própria a banda criou um volume de idéias que, às vezes, nem ela mesma consegue comportar.

A capa do disco é inspirada na pintura modernista européia e algumas faixas têm título de artigo acadêmico: "Fim da Música Como Arte", "Terrorista Justo", "A Guerra Santa". Os assuntos são sérios e qualquer senso de humor que possa haver é negro. As letras são cada vez mais ousadas e bem construídas, no caminho de discos anteriores, Grandes Infiéis (2005) e Tribunal Surdo (2007). Mas o que sobra de vigor nas palavras falta no som, que não tira o Violins de um balaio das bandas de rock pós-Radiohead.

Conflitos entre vontades religiosas e carnais de vários personagens são o tema em todas as músicas. Um terrorista convicto, um profeta sem fiéis, um amante desapaixonado, um assassino condenado, um padre pedófilo, entre outros, ganham voz na voz de Beto Cupertino.

Mas as histórias são acompanhadas por violões e pianos entremeados com guitarras distorcidas que, além do efeito reduzido pelo desgaste da fórmula, não são, em geral, trabalhados pela banda de uma maneira muito expressiva. "Entre o Céu e o Inferno", por exemplo, começa com um tipo de arranjo que vem sendo copiado e diluído desde meados da década de 90, quando Jeff Buckley lançou Grace e o Radiohead soltou The Bends. No meio da faixa, um efeito eletrônico soa como um remendo de ousadia sonora que o resto da canção não sustenta.

Versos como "Eu sonho em envelhecer com você dentro de um cemitério", de "Festa Universal da Queda", ficam bem no papel, mas no resultado final soam como 14 Bis musicando uma poesia de Augusto dos Anjos, ou Guilherme Arantes cantando a trilha de Sweeney Todd.

Quando as músicas conseguem ser tão potentes quanto as letras, a obra se torna sublime. A tensão causada pelos efeitos e teclados econômicos de "A Guerra Santa" potencializa a sensação de abandono e desespero do narrador. "Manobrista de homens" e "Terrorista Justo" são os pontos altos das duas partes do disco.

Em "Manobrista", acompanhado apenas por piano, um verso resume o esforço de todos esses personagens: "Tente permanecer vivo, preso aos impulsos dos seus próprios pés, da sua própria fé". Depois entra uma guitarra tão alta que fica difícil entender algumas palavras do assassino. Durante alguns segundos a guitarra faz o papel do "tribunal surdo" e aproveita a chance, em outros momentos desperdiçada, de boas atuações a partir do belo roteiro deste disco.

Isso é porque eles não foram produzidos por Brian Eno

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