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Caveiras do barulho

28.08.08

por Rodrigo Ortega

The Verve - Forth

(Virgin, 2008)

Top 3: "Love is noise", "Sit and wonder", "Epic noise".

Princípio Ativo:
(Um pouco de) amor e (muito) barulho

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Quinze anos depois do seu auge, o britpop se recusa a morrer. Oasis e Verve, dois dos seus nomes mais bem-sucedidos, tentam manter sua relevância musical em pleno 2008, o primeiro com Dig Out Your Soul, que sai em outubro, e o segundo com Forth, seu quarto álbum de estúdio, lançado nesta semana na Europa e nos EUA.

Na verdade, o caso do Verve é mais de morte e ressureição do que de persistência. O grupo surgiu em 1989, se separou em 95, voltou em 97, terminou de novo em 99 e está de volta agora. Quando todo mundo acha que suas baladas grandiosas são coisa do passado, aparece o vocalista Richard Ashcroft com sua cara de caveira levantada da tumba, causando catarse com "Bittersweet symphony" e outros clássicos.

Mas além da nostalgia, o que deu força a esta volta do Verve foi o novo single "Love is Noise", que consegue ser tão bom quanto as melhores músicas do grupo. A faixa é uma ponte entre as duas pedras fundamentais do grupo: as melodias marcantes de Urban Hymns (1997) e o rock potente e psicodélico de A Northern Soul (1995). Os gritos primais de Ashcroft no início da música são um sinal da energia e da auto-confiança do retorno. Com o refrão "Love is noise / Love is pain / Love is this blues that I´m singing again", o Verve chegou a mais um de seus hinos de amor sombrios.

Mas depois de "Love is noise", Forth segue muito mais para o lado do barulho do que do amor - mais parecido com A Northern Soul do que com Urban Hymns, portanto. O contraponto à música de trabalho é "Noise epic", oito minutos de distorção e versos aleatórios que chegam a lembrar Sonic Youth. As faixas restantes mantêm este clima de "jam psicodélica" de "Noise Epic", apenas trocando a distorção por efeitos de reverb e delay. Thiago Ney, no Ilustrada no Pop, chamou a música de "épico vazio". Isso não deixa de ser verdade, mas parece ser exatamente o que a banda queria, o que fica mais claro ainda em "Numbness".

Nos minutos iniciais do épico barulhento, o contrabaixo de Simon Jones é o instrumento que predomina, mais alto até que a voz de Ashcroft. Enquanto todos esperavam o reencontro do vocalista com o guitarrista Nick McCabe , é Jones que acaba sendo a figura mais importante deste trabalho. Suas linhas de baixo marcantes e hipnóticas dão o tom de Forth, um disco de arranjos mais do que de canções.

É possível ouvir as novas músicas buscando outra "Love is noise" e chegar a outros bons momentos em "Sit and Wonder" e "Valium Skies". Mas é melhor desistir de uma sucessão de hits, afinal o Verve está muito velho para este papel (isso é para os Kaiser Chiefs ). No fim das contas, Forth não é um CD para ser ouvido no rádio, de mãos dadas com a namorada, e sim no som do seu quarto, sozinho e no escuro.

"Calça cinza? A gente não combinou que era tudo preto, porra?"

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