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A banda completa

01.09.08

por Rodrigo Ortega

Bloc Party - Intimacy

(2008)

Top 3: "Mercury", "One month off", "Biko"

Princípio Ativo:
Amplitude

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Dizem que este terceiro disco do Bloc Party é uma mistura dos dois primeiros, o aclamado Silent Alarm (2005) e o controverso A Weekend in the City (2007). Afinal, os dois produtores do novo disco são os responsáveis pelos trabalhos anteriores - Paul Epworth na estréia e Jacknife Lee no segundo. Mas Intimacy é muito menos um retorno a Silent Alarm do que uma evolução no caminho que a banda já vinha apontando, especialmente com com o uso de mais elementos eletrônicos.

Além das dez músicas que foram oferecidas para download pago, Intimacy vai ser lançado como um disco "físico" em outubro, com faixas-bônus. Mas isso parece apenas uma estratégia para evitar encalhes nas prateleiras, pois a própria banda já anunciou que nem sabe que bônus serão estes. Portanto, já podemos ouvir Intimacy como um trabalho "completo".

"Completo", aliás, é um bom adjetivo para o som que o quarteto está fazendo. Depois de um flerte meio desengonçado com a dance music na faixa "Flux", do ano passado, veio "Mercury", primeiro single de Intimacy, que apesar do clipe de gosto estranhíssimo, já mostrava um uso muito mais equilibrado e original dos brinquedos eletrônicos.

Assim como no Radiohead pós-Kid A, os efeitos ajudam a transformar a voz em mais um instrumento nas músicas. Basta ouvir o tal primeiro single, em que o efeito de repetição das primeiras sílabas não serverm apenas para dar-lhe um "charme moderno" e reforçar o sentido da frase ("Mercury / mercu-mercury is in retrograde"), mas moldam a estrutura do verso principal, tornando-o simples e complexo ao mesmo tempo.

Mas o Bloc Party não se desconstrói por completo como o Radiohead - as músicas ainda têm uma estrutura e uma narrativa mais ou menos tradicionais. Se por um lado eles se aproximam dos grupos de "dance music inteligente", que fazem eletrônica dançante sem apelar para truques manjados (de Chemical Brothers a Hot Chip), eles continuam a agradar aos adeptos da corrente que levou o indie-rock às pistas (strokesfranzferdinandetc).

Não se trata de "seguir a tendência", um capricho do tipo "resolvi lançar o remix em vez da gravação original". Os versos curtos e repetitivos do vocalista Kele Okereke são bastante propícios a estas intervenções eletrônicas. Mas os climas hipnóticos que eles construíram em A Weekend in the City evoluíram para algo mais forte e pesado, do transe à catarse, principalmente nas duas primeiras músicas, "Ares" e "Mercury".

O disco não segue nessa energia frenética até o final, com faixas que ora contrapõem as eletronices com pura guitarra (a hardcore "Halo", o sensacional refrão de "One month off"), ora trazem arranjos mais esparsos ("Biko", "Signs") para deixar em primeiro plano outra marca de Intimacy: as letras que escapam do cenário paranóico e apocalíptico das primeiras faixas para um abrigo em afetos e histórias íntimas. O que acaba tornando esta parte final menos excitante e mais convencional que o início, mas não deixa de confirmar aquele adjetivo sobre o grupo: completo.

Festa Bloc

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