Busca

»»

Cadastro



»» enviar

Quem é essa garota?

20.11.08

por Rodrigo Ortega

Mallu Magalhães - Mallu Magalhães

(2008)

Top 3: "Tchubaruba", "J1", "O preço da flor".

Princípio Ativo:
toddynho com uísque

receite essa matéria para um amigo

Mallu Magalhães é uma menina fofinha que gravou umas músicas quase sem querer e conquistou um sucesso mágico. O conto de fadas é comovente (chuinf), mas não dá mais conta da realidade. De "conhece a Mallu?", passando por "o que acha da Mallu?", "foi no show da Mallu?" até o "sério, Camelo e Mallu?", o fenômeno só aumenta e fica mais complicado. O sonho colorido de criança com marshmallow cor-de-rosa acabou, como disse o Rodrigo Édipo. O irregular disco de estréia da garota, produzido por Mario Caldato Jr. (Beastie Boys, Jack Johnson), não ajuda a desvendar a verdadeira Mallu. Pelo contrário, dá argumentos para várias interpretações possíveis do fenômeno.

Mallu é retardada
É difícil saber a diferença entre "fofo" e "constrangedor" ao ouvir a garota cantar "tchic tchic tchiiiic", tipo apito de maria-fumaça, pra criar um clima "folk" em "Angelina, Angelina". Aquela vozinha "naive" chega a soar como auto-ironia. Caldato tenta passar um verniz psicodélico, mas a música não é mais que inofensiva, assim como "Her day will come". Nessas horas, penso na teoria de que Mallu é tão jacu que deu uns selinhos no Hélio Flanders e uns beijos na barba do Camelo e achou que eram seus namorados. Teoria Pollyana, eu sei.

Mallu é superdesenvolvida
Poucas faixas depois, lá está Mallu rimando "shoooes" com "bluuues" como se fosse Janis Joplin (tá bom, ou a Phoebe) e descrevendo a "Town of rock n'roll" como se tivesse a bagagem de Keith Richards. Dá pra elogiar ou dizer que é puro pastiche, mas não é normal o quanto ela se arrisca nessas faixas e ainda nas arrastadas "Noil" e "It takes two to tango", de cinco minutos, que a maioria das garotas da sua idade não teria paciência pra ouvir por dez segundos. Nessas horas ela parece uma hippie madura e eu quase fico indignado com o quanto Hélio Flanders era novinho pra ela.

Mallu é oportunista
Lembra que as únicas coisas boas que a roqueira Courtney Love gravou, Live Though This (94) e Celebrity Skin (98) foram, "coincidentemente", na cola de seus namorados em cada época, Kurt Cobain e Billy Corgan? Então, Mallu é uma Courtney-folk-mirim muito mais eficiente. Em dez meses, dois relacionamentos com compositores renderam músicas endereçadas aos rapazes e com melodias parecidas com as que cada um faz: "Vanguart" (o nome já entrega pra quem) e "O preço da flor" (os versos "O preço dessa flor / Que vem de um lote enumerado / Fabricação no estado do Rio" também entregam). Eu sei, essa é uma teoria machista horrível. O que importa é que as duas músicas, as únicas em português do CD, estão entre as suas melhores.

Mas já que o assunto é oportunismo, outro sonho cor-de-rosa: Mallu é o profeta da nova era em que o artista se liga diretamente com o público, o consumidor tem o poder, o indie é o novo pop blabla. Ela esnobou as gravadoras simplesmente porque outras corporações dão mais dinheiro: o site oficial do disco e todo o seu lançamento não passam de uma campanha da Vivo para vender celulares.

Mallu é gênio
Ah é, tem "Tchubaruba". E "J1", e "Get to Denmark". Boa notícia: as músicas incríveis que ela lançou lá no comecinho continuam incríveis. Até mais, com a produção do Caldato e a boa banda que a acompanha, Ole Friendly Band. "Génio" é exagero, mas nessas horas ela alcança o máximo que um músico pode conseguir: te fazer sair do mundo real e entrar na música. Idade, fofocas e promoções de telefone ficam do lado de fora.

Com o tanto que se fala sobre a Mallu, é possível construir várias delas e ainda escolher uma pra você. Eu fico com essa última.

Sentido horário: Mallooser, Mallu Mulher, Mallolita e Magalhãeinsten.

» leia/escreva comentários (35)