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Robôs de 1984

25.11.08

por Rodrigo Ortega

Ida Maria - Fortress Round My Heart

(2008)

Top 3: "Drive away my heart", "Oh my god", "Queen of the world".

Princípio Ativo:
ø - x + 84

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Ida Maria é uma cantora norueguesa, bonita, roqueira-porém-elegante, com um disco de estréia elogiado e um sobrenome com um caractere impossível de se escrever sem ctrlc+ctrlv: Børli. Não tenho motivo para me identificar com ela exceto por uma coisa: assim como eu, Ida Maria nasceu em 1984.

Viemos depois da geração X
Li outro dia uma nota de jornal ligando a vitória do Obama à chegada ao poder da Geração X. Aqueles garotos pós-hippies sem rumo fizeram 40 anos e tomaram rumo. Tchau Clinton e Dylan, olá Obama e Stipe. Nós de 1984 nos emocionamos com REM, mas ainda não estamos no poder nem temos rumo. Netos de sonhadores e filhos de pragmáticos, somos só egoístas pracaralho. Basta tentar contar quantos "I"s e "me"s são pronunciados por Ida Maria no disco dela, geralmente em tom de piti.

Nós dançamos e bebemos e transamos (porque não tem mais nada pra fazer)
Seguimos com (in)di(e)sciplina o conselho do tio Jarvis Cocker. Copos de bebida, cigarros e gente fazendo merda em geral aparecem nas letras de todas as músicas desse disco. Os dois maiores sucessos, "I like you so much better when you´re naked" e "Oh my god" chamam atenção justamente por esse clima de euforia e auto-destruição.

Nós mastigamos rápido
"Menino, mastiga devagar!" A bronca que minha mãe me dava na mesa de almoço é a mesma que a Ida Maria poderia ter tomado na mesa de gravação. A ingestão de referências é frenética. Ida é Karen O, PJ Harvey, Courtney Love, Patti Smith e Avril Lavigne ao mesmo tempo. Colocar Patti e Avril numa única frase pode ser heresia, mas é culpa da norueguesa que junta músicas sublimes como "Drive away my heart" com besteirinhas como "Forgive me" no mesmo CD.

Nós somos os Reis do Universo, nós trombamos nas coisas
Ficar eufórico e fazer pequenas e enormes cagadas é uma atividade milenar, mas parece ser uma vocação especial da nossa geração. O verso que está em negrito aí em cima, de "Queen of the night", é um achado de Ida. A sequência dessa faixa com "In the morning Light", que fala mais ou menos sobre a mesma coisa, são a parte mais divertida do álbum.

Nós somos répteis
Lembra que o livro de biologia ensinou que os répteis são animais sem temperatura corporal constante, que dependem de calor externo? A Ida Maria também. Em "Keep me warm", ela apela pro cigarros e copos de café de um alguém pra se manter aquecida. Sim, nós somos frios e egoístas pracaralho. Mas no meio dos "me, me, me"s de Ida a gente ouve um "dirija meu coração pra longe / porque ele não é mais meu" e um "oh meu deus, você acha que eu estou no controle". Nossa causa não é paz e amor (eca) ou sustentabilidade (blé). É nos apaixonar como única forma de não morrermos congelados.


Ida diz OMG

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