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Em busca de (outra) vida

16.12.08

por Mariana Souto

Mil anos de orações

(Mil anos de orações )

Dir.: Wayne Wang
Elenco: Henry O, Feihong Yu, Vida Ghahremani, Pavel Lychnikoff

Princípio Ativo:
China/EUA

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O novo filme do sino-americano Wayne Wang tem tudo a ver com sua própria condição – um pé no Oriente e outro no Ocidente. O diretor começa “Mil Anos de Orações†com uma estética que costumamos ver nos filmes orientais, sobretudo os japoneses contemporâneos: rigor nos enquadramentos, poucos diálogos, ritmo lento, planos longos e muito silêncio. Aos poucos, contudo, o filme caminha para um melodrama familiar, uma lavação de roupa suja entre pai e filha, de um jeito quase novelesco.

Chi é um senhor que mora na China e viaja aos Estados Unidos para visitar a filha Yilan. A maior parte dos relacionamentos dos dois protagonistas é com outros imigrantes: Chi passa dias no parque conversando com uma senhora iraniana; já Yilan está envolvida com um russo. Essa mistura de culturas dá o tom de vários momentos do filme. Os americanos, quando aparecem, são retratados de forma bem peculiar – são figuras estranhas, que intimidam até pelo excesso de simpatia, como uma cientista loira que fica na piscina do condomínio. Em outras cenas, os yankees são vistos como figuras esquisitas (o vendedor de olhar vidrado, por exemplo), deixando Chi constrangido e sem saber como agir.

Se os efêmeros relacionamentos com americanos são desconfortáveis, os laços familiares não ficam atrás. O apartamento de Yilan é palco para as complexas dificuldades que a moça atravessa com seu pai. Toda uma história de ressentimentos vem à tona com a visita de Chi e, depois de algum tempo de tensão silenciosa, segredos são revelados, cobranças e ofensas emergem. O filme muda completamente de tom, mas não chega a cair no melodrama assumido de “Clube da Felicidade e da Sorteâ€.

A imigração aparece como questão central em “Mil Anos de Oraçõesâ€, ao lado do tema das relações familiares e o choque de gerações. A vontade de ir para o outro lado do oceano em busca das liberdades individuais, com a intenção de esquecer o passado difícil na terra natal, convive com a nostalgia e a saudade dos velhos tempos e de toda uma cultura. Wayne Wang revela as dificuldades de adaptação dos imigrantes que buscam nos Estados Unidos uma versão mais livre da China, e não os próprios Estados Unidos com todas as suas características, seu modo de vida, suas pessoas. E dessa mistura disforme se faz “Mil Anos de Oraçõesâ€, filme um tanto indefinido, sem graça, perdido na incoerência de influências tão diferentes.

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Qual é maior: a distância entre China e EUA ou a distância entre Chi e Yilan?

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