Sobrevivente
15.02.09
por Igor Costoli
|
O lutador
(The wrestler, EUA/França, 2008)
Dir.: Darren Aronofsky
Elenco: Mickey Rourke, Marisa Tomei, Evan Rachel Wood
Princípio Ativo: A miséria humana
|
|
receite essa matéria para um amigo
Darren Aronofsky diz que investidores fugiam só de ouvir o nome de Mickey Rourke. Não há razão para duvidar. Como também não há razão para questionar sua escolha. Se a vida imita a arte, e vice versa, poucas vezes a expressão “fazer o papel de si mesmo†será dita não como crÃtica, mas com uma grande dose de respeito.
Alguns ditos não são apenas populares, são eternos: tudo que sobe, desce. Aronofsky faz de seu exercÃcio de observação da miséria humana um ato de crueldade. Rourke conheceu céu e inferno em Hollywood. Estrelato, dinheiro, sÃmbolo sexual. Decadência, miséria, autodestruição. Nenhuma metáfora é mais possÃvel que a do exorcismo de seus demônios em cena - palco que o viu surgir, brilhar e ruir. Perguntar-se “por que falam tanto desse filme sobre Luta Livre?†é o mesmo que reduzir “Clube da Luta†a um filme de homens brigando gratuitamente.
Randy “Carneiro†Robinson é um homem vivendo à sombra de sua própria fama, apresentando-se em pequenos ginásios por cachês ridÃculos. Rourke não teve de ir longe, apenas ir fundo, para encontrar inspiração. E na vasta paleta de opções, aproveitou-se de todas as marcas do excesso estampadas no rosto, corpo e olhos do protagonista.
Entre as crueldades do roteiro, está o subemprego empilhando caixas em um supermercado, subordinado a um chefe que se diverte sadicamente: o dinheiro é o único contexto em que o gerente poderia subjugar o ex-lutador - e tanto maior é seu prazer em humilhá-lo. Ele é a verbalização do fracasso de Randy, que destruiu também a relação com a filha (Wood), sobrando-lhe como único refúgio o contato com a stripper Cassidy (Marisa Tomei, para além dos limites do sensacional), sua última esperança de redenção.
Trabalhar o corpo, superar os limites do desempenho comum e vê-lo tornar-se obsoleto mais rapidamente que em qualquer outra profissão. Eis a grande ironia do esporte. A carreira curta não pede ao atleta que ele viva rápido - mas como não se compadecer de um personagem tão humano quanto Randy, que tentou engolir a vida, enquanto a vida o sorvia de volta? Como não se identificar com a stripper e sua idêntica luta contra os efeitos do tempo, contra o emprego humilhante e sem esperança?
Mas há o que comemorar. Em certo aspecto (talvez apenas neste aspecto), “O Lutador“ pode ser visto como uma celebração. Pois os únicos atores que vêem a carreira definhar com a idade, a exemplo de atletas, são os que possuem apenas a beleza como recurso dramático. Um grande ator sempre terá a experiência a seu favor. Ou, como estampado na expressão de Mickey Rourke, ele sempre terá a vida a lhe acrescentar.
Mais pÃlulas:
- Menina de ouro
- Rocky Balboa
- Linha de passe
- ou Navegue por todas as crÃticas do PÃlula
Rourke já ganhou: o favorito na categoria "melhor discurso do Oscar".
» leia/escreva comentários (11)
|