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A força da juventude

28.04.09

por Igor Costoli

A bela Junie

(La belle personne, 2008, França)

Dir.: Christophe Honoré
Elenco: Léa Seydoux, Louis Garrel, Grégoire Leprince-Ringuet, Esteban Carvajal-Alegria, Simon Truxillo, Agathe Bonitzer, Anaïs Demoustier

Princípio Ativo:
Jovens em ebulição

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“Parem com isso vocês dois. As meninas merecem respeito, mesmo nos dias de hojeâ€.

Uma frase curiosa, que foi solta em algum momento no meio do filme. Foi dita sem peso algum, sem uma marca evidente de ironia ou de gravidade. Ainda assim, resume alguns contextos e premissas melhor que uma sinopse.

Depois da morte da mãe, a realmente bela Junie (Léa Seydoux) muda-se de cidade e escola, morando agora com o primo Matthias (Carvajal-Alegria). A sua chegada ao secundário no meio do ano é o elemento que desorganiza a ordem do lugar – atrai os olhares dos homens, desperta a inveja das colegas e chama a atenção dos professores. Como na teoria de Veríssimo, em que o tímido quase grita por atenção com sua timidez, o jeito quieto e recluso de Junie parece fazer dela ainda mais atraente e interessante.

O frisson segue até o início do namoro de Junie com Otto (Leprince-Ringuet). É quando outro personagem começa a ganhar espaço na trama: o professor de italiano Nemours (Garrel, mais na base da fama que do próprio talento), um adulto jovem, que tem casos com uma professora mais velha e uma aluna mais nova. Ambos os casos vão sofrer a partir do momento em que ele percebe a bela novata.

Dentre as construções da história, duas chamam a atenção. Uma é a de como se dão todos os relacionamentos na trama. Confusos, intensos, inesperados e, mesmo assim, todos plausíveis, possíveis. A segunda é a descoberta de uma carta de amor - e de como ela causa uma reviravolta quase completa no roteiro.

Talvez aí resida a ironia. Nessas idas e vindas, o amor é menos redenção e mais sofrimento. E, nesse caso, as diferenças de sexo ou de idade se tornam irrelevantes. Não seria correto concluir isso como uma mensagem, mas como um fato: o amor pode curar uma dor, mas o preço pode ser uma nova. Um fato amoral, sem julgamentos. “A bela Junie†é um filme maduro sobre jovens e sobre como este sentimento – apesar da típica intensidade da juventude - é o mesmo em qualquer idade.

Pontos para Christophe Honoré e sua história, em que todo o terceiro ato parece o prelúdio de que algo ruim vai acontecer. Simbolicamente, a maior parte da ação se desenrola no colégio, daí o filme começar com os portões se abrindo. Se antes do final eles se fecham, algo mudou e um novo ciclo está pra começar.

Junie, essa bela pessoa, é ao mesmo tempo triste e bela o suficiente para conduzir esta história, que também se equilibra nesses dois pilares.

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