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O passeio do Porcas Borboletas

por Natália Becattini

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Eles estão mais maduros. Esta é uma opinião quase unânime de quem escutou A Passeio, segundo CD da banda mineira Porcas Borboletas, que foi disponibilizado para download em agosto. No entanto, para quem já conhecia a banda dos tempos do primeiro disco, Um Carinho com os Dentes, ainda está tudo lá. Bom humor, confere. Letras irônicas, confere. Acidez, confere. Influências diversas que vão da música brasileira às mais diferentes vertentes do rock, confere.


Os Porcas Borboletas

Então, o que foi que mudou? Talvez seja aquela guitarra que se sobressai, ou os baixos que vez ou outra chamam a atenção, ou a bateria, ou o vocal. “Dá pra sacar melhor as individualidadesâ€, diz Banzo, um dos vocalistas da banda. Isso sem falar nas letras, nos temas das canções e nos nomes de peso que se juntaram ao grupo de Uberlândia para dar forma ao disco: Arrigo Barnabé, Leandra Leal, DJ Tudo, Simone Sou e Paulo Barnabé, para citar alguns deles.

No final, a impressão que se tem é de que cada um – meninos da banda e convidados - criou um pouco, rearranjou a música, deixou sua marca pessoal. O resultado foi um todo diversificado, um disco repleto de misturas e subjetividades, mas uma mistura com coerência. Assim como o Porcas Borboletas se orgulha em ser.

Pílula Pop: O que muda no A Passeio com relação ao disco anterior? Vocês consideram que a música de vocês está mais madura?

Banzo - Porcas Borboletas: Com certeza é um disco diferente do primeiro, e entendemos isso como um amadurecimento sim. A gente adora o primeiro disco, mas esse é nosso retrato agora. Uma diferença básica é que todas as músicas foram compostas na formação da banda atual (no primeiro muitas músicas foram compostas antes da entrada de baixo e bateria na banda). Outra coisa é que nesse disco dá pra sacar melhor as individualidades (como são as guitarrras do Moita, o baixo do Rafa, os barulhos do Ricardim, a batera do Vi, os cantos do Banzo e do Danislau) e isso fortalece ainda mais o conjunto do som.

Pílula Pop: Um Carinho com os Dentes é composto de 16 faixas, todas elas muito diferentes entre si. Vocês acham que agora estão mais próximos de encontrar uma identidade musical? Ou a identidade do Porcas Borboletas é justamente essa mistura irreverente de sons, estilos?

Banzo - Porcas Borboletas: A mistura está na gente, no nosso jeito, a gente ouve de tudo e curte arte de todo jeito (não só música), então não dá pra pensar o Porcas Borboletas com músicas que seguem um mesmo pre-set. Mas há uma unidade nessa diversidade, existe uma costura entre as músicas, existe uma visão de mundo que tem como resultado esse conjunto de canções.

Pílula Pop: Este disco veio cheio de participações especiais. Como foi a experiência de gravar com outros artistas?

Banzo - Porcas Borboletas: Foi delicioso. Um processo inesquecível, essa troca é muito estimulante pra todo mundo. O Bocato e o Paulo Barnabé gravaram no mesmo dia, pirando no som, o Arrigo fez um texto muito a cara dele, a Leandra deu uma leitura pra música que a gente nem imaginava, Jeneci gravou com a gente na casa dele (o cara é pura música), Arthur de Faria gravou lá do sul, o Junio Barreto cantou daquele jeito que só ele, e teve o Marcelão nos metais, o Cotonete fazendo um trompete lindo, sem falar na Simone Sou e no Alfredo que estavam ali no cotidiano do disco. Cada convidado trazia uma informação nova e meio que reiventava a música, incorporando sua linguagem somada à nossa, as faixas se transformaram no resultado de trocas estéticas muito verdadeiras.

Pílula Pop: O Porcas Borboletas está sempre nos festivais de música independente em diversas regiões do país. Qual vocês acham que é a situação da cena independente no Brasil? O que falta para que ela se fortaleça ainda mais?

Banzo - Porcas Borboletas: É uma cena que se fortalece a cada dia, e que representa uma novidade muito grande num momento de total troca de paradigmas no mercado da música. A gente não acha que independente é trampolim pra mainstream, o lance é criar um mercado médio em que os artistas e demais envolvidos na cadeia tenham condições dignas de se comunicar com o mundo. Acho que estamos no caminho pra isso.

Pílula Pop: Ainda é muito difícil ser uma banda independente no Brasil?

Banzo - Porcas Borboletas: É muito difícil e muito prazeroso. Apesar das perrengas (que são investimentos conscientes) hoje em dia um artista independente circula o país inteiro, passa por experiências memoráveis (como acabamos de ter na nossa tour nordeste) e troca informações com gente de todo tipo.

Pílula Pop: A Passeio foi lançado direto na internet para download gratuito. Essa parece ser uma nova tendência no mercado musical, já adotada por grandes bandas internacionais. Vocês acreditam que esse seja o futuro da música? O que vocês acham das gravadoras e artistas que tentam impedir a utilização da internet para a disseminação desse tipo de produto?

Banzo - Porcas Borboletas: Impedir não faz sentido, a música vai pra net de qualquer jeito. É um anacronismo. A liberdade é o princípio que nos rege tanto na criação artística tanto na hora de ir pro mercado. Se o cara quer baixar, baixa. Se quer comprar o disco, compra. Acreditamos num futuro assim, livre.

Pílula Pop: E daqui pra frente, quais são os próximos projetos da banda?

Banzo - Porcas Borboletas: Estamos focados totalmente no lançamento do disco novo, pretendemos circular o país inteiro e fazer com que nossa informação estética circule e se dissemine. Artista quer se comunicar. Ao mesmo tempo, logo já começamos a criar coisas novas, esse processo criativo é um dos principais motores do trabalho. No mais, sem grandes planos mirabolantes, o que vier é conseqüência...


Documentário da TV Fora do Eixo sobre A Passeio

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