Sete vidas e uma gata


Nossa avaliação

Ela está prestes a voltar às telonas em “Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge”. Você provavelmente a conhece como a Michelle Pfeiffer, usando um traje de couro brilhante, cheio de costuras, e falando “miau”. Ou lembra-se nostalgicamente dela como Julie Newmar, com um arco de orelhinhas no cabelo. Se você a conhece como a Halle Berry em uma roupa de baixo preta, provavelmente preferiria esquecê-la. Mas talvez você não conheça a longa história dela nos quadrinhos.

A Mulher-Gato foi criada por Bill Finger e Bob Kane (este que também criou o Batman) em 1940. A ideia para essa supervilã vem do conceito de “cat burglar”, expressão anglófona para o ladrão que entra sorrateiro, sem fazer barulho, e rouba antes que percebam a sua presença, e serviu para introduzir sensualidade na revista do homem-morcego. Desde então a personagem, cuja identidade secreta atende pelo nome de Selina Kyle, tem sido o interesse romântico mais recorrente do herói, servindo ora como aliada, ora como adversária.

A relação entre Batman e Mulher-Gato é como um conflito entre gato e rato. Só que neste caso o rato tem asas e é ele quem corre atrás da gata. Sendo uma ladra, a Mulher-Gato coloca o Batman em uma posição delicada: ele se vê ao mesmo tempo obrigado a tentar prendê-la e tentado a deixá-la escapar, afinal ela não é uma assassina psicopata como alguns de seus inimigos, apenas uma ladra que fica muito, muito bem de colante. Vale notar que, apesar de muito sexualizada, ela é um exemplo pioneiro de personagem feminina forte e independente.

A versão clássica da personagem, durante a “era de Ouro” dos quadrinhos, é notável por suas tentativas de se reformar e tornar-se uma super-heroína. Durante a década de 1970, em uma série de histórias ambientadas na “Terra-2” – um mundo “paralelo” onde eram ambientadas algumas estórias de super-heróis com maior liberdade criativa – a Mulher-Gato de fato reabilitou-se, casando-se com Bruce Wayne e dando à luz uma filha: Helena Wayne, que após crescer se tornaria a heroína “Caçadora”, seguindo os passos dos pais. Eventualmente surgiram outras versões da Caçadora, que não tinham ligações com Batman ou a Mulher-Gato. Mas a filha da ex-vilã chegou até a estrelar a série de TV “Aves de Rapina”, em 2002.

A versão “moderna” da personagem, entretanto, deve muito à graphic novel “Batman – Ano Um”, de Frank Miller e David Mazzucchelli, que inclusive serviu de inspiração para o primeiro filme da trilogia de Christopher Nolan, “Batman Begins”. Nesta versão, Selina é uma prostituta que, inspirada pelo Batman, adota uma fantasia de gato a fim de lutar contra a relação abusiva com seu cafetão e para proteger a jovem amiga Holly Robinson (que tem uma pequena participação em “O Cavaleiro das Trevas Ressurge”).

Durante a década de 1990, Selina adotou um traje roxo, com botas de couro de cano alto e um chicote. Esse ar “sadomasoquista” tem sido um aspecto integrante da personagem, mas fica mais evidente a partir dessa época. É também nessa época que a vilã estrela pela primeira vez a sua própria revista, e mais detalhes da sua estória são revelados. Em algumas versões, ela cresceu em um orfanato; em outras, tem laços com a máfia de Gotham City; em uma versão ela até aparece como aprendiz do herói clássico “Pantera”.

As histórias das últimas décadas focaram principalmente na relação ambígua da Mulher-Gato com o heroísmo. Ela ajuda Batman em várias ocasiões, e quando o vilão Bane tenta dominar Gotham City, ela recusa-se a trabalhar para ele. Na sua série solo de 2001, ela retorna a Gotham como protetora do bairro East End, retoma seu relacionamento com o homem-morcego e chega a fazer parte da Liga da Justiça. No entanto, ela acaba descobrindo que sua “reabilitação” era fruto de uma lavagem cerebral por parte da heroína mística Zatanna, e volta ao crime. É nessa época em que ela é forçada a matar o vilão Máscara Negra, e acaba optando por aposentar a fantasia. Holly Robinson se torna a Mulher-Gato em seu lugar, enquanto Selina passa por uma gravidez e dá à luz à pequena Helena. Embora o nome de sua filha seja uma referência à estória da Era de Ouro, é apenas insinuado que o pai seja Bruce Wayne. Eventualmente Selina volta a assumir a identidade da Mulher-Gato, chegando a integrar o grupo conhecido como “Renegados”, e mais tarde forma sua própria equipe com as ex-vilãs Arlequina e Hera Venenosa, e até arruma uma parceira mirim, a “Moça-Gato”.

Em 2011, quando a DC Comics reformulou toda a sua linha de quadrinhos de super-heróis, a Mulher-Gato ganhou um título próprio entre as 52 revistas a serem relançadas a partir do número um. Nesta versão, ela volta a ser uma ladra com um romance complicado com o homem-morcego – e apesar de algumas polêmicas cenas “calientes”, ela sequer conhece a verdadeira identidade do herói. A controvérsia não termina no teor semi-explícito de algumas cenas; as capas da revista, por exemplo, geraram algumas reações exaltadas pela sexualidade exacerbada: algumas poses da protagonista são tão sensuais que desafiam leis da física e da anatomia humana.

Aí está: você sabe quase tudo o que precisa saber sobre a Mulher-Gato antes de assistir a “Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge”. Só falta descobrir que vai precisar de um babador para as cenas da Anne Hathaway como a personagem…

- Você vem sempre nesse telhado?


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