Justin Timberlake – The 20/20 Experience


Nossa avaliação


O fato mais revelador sobre “The 20/20 Experience” é que suas duas canções mais assertivas e radio edit, “Body Count” e “Dress On”, só entraram na versão deluxe.

Não é uma completa novidade: “Future Sex/Love Sounds”, de 2006, já contabilizava cerca de 66 minutos distribuídos em doze faixas (segundo Walter Everett, a canção pop tem, em média, de três a três minutos e meio. Muita gente acha que “Summer Love” é só isso, quando na verdade é isso tudo, com prelúdio e tudo). E, claro, um dos discos mais (inserir superlativo de acordo com o gosto pessoal) do novo século já chutou esse papo de duração para bem longe, inclusive nos clipes.

“The 20/20 Experience” tem 70 minutos, em dez músicas, polidas pelo produtor Timbaland. Justin disserta sobre o que sempre lhe foi caro: dança, entusiasmo, festas perfeitas, e, principalmente, gemidos lisonjeiros ao pé do ouvido.

As incursões de JT são monogâmicas. A mágica não funciona se os elogios servem a uma multidão (headphones são invidividuais): pouco afeito a plurais, Justin prefere se concentrar em uma só garota. A lista de adjetivos é maciça: além dos preferidos “baby” e “lady” (além do “girl” em falsete, supostamente irresistível), também rolam “daisy”, “inspiration” e “mirror”, que nomeia um dos hits – o compositor, é claro, deu um jeito para que a música possa ser cortada lá pelos cinco minutos sem qualquer sintoma muito evidente de brusquidão.

É igualmente sintomático que Timberlake somente não triunfe em “Let The Groove In”, a mais empolgada. O refrão (“Are you comfortable right there, right there? Let the groove get in there, there, right there”) insiste em tentar empurrar uma catarse que simplesmente não está lá.

Os dois singles iniciais, “Suit & Tie” e “Mirrors”, são fiéis à linha “feel good hit of the summer”. O primeiro, com Jay-Z, lançado antes do álbum, anunciou ao mundo que o homem ainda se interessava por música.

Ambos não condizem com a introspecção de “Don’t Hold The Wall”, “Blue Ocean Floor” e “Strawberry Bubblegum”, a trinca de ouro de “The 20/20 Experience”. Nada que fuja ao histórico dos discos grandiosos da música pop: canções estridentes que servem de chamariz para uma densidade que pode não ser bem recebida.

“Spaceship Coupe” apresenta um solo de guitarra à Prince, uma influência óbvia em todo o trabalho de JT, que se encaixa tranquilamente às batidas festeiras conduzidas por Timbaland. A guitarra, providencial, impede a desagradável sensação que pode acometer a maioria das músicas de longa duração: a ideia de que a extensão é desnecessária.

“The 20/20 Experience” é, no fim das contas, um conjunto harmônico de dez peças, idiossincráticas aos seus devidos modos. Mas não custava nada substituir “Let The Groove Get In” por “Body Count” na última volta.


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