Luc e Jean Pierre
Duplas de irmãos bem sucedidos no cinema não são raridades: a sétima arte começou com dois deles – os Lumière. Então não seria de se estranhar que uma das grandes descobertas do cinema europeu dos anos 90 tenha sido os irmãos Jean Pierre e Luc Dardenne, se: 1-eles não fossem da Bélgica – paÃs sem tradição cinematográfica; e 2- tivessem origem operária em uma nação rica e com alto padrão de vida.
Pois é, os Dardenne trabalharam por meses em uma fábrica de cimento para comprar seus primeiros equipamentos de vÃdeo. Os dois eram proibidos de assistir à TV e filmes, quando cresciam na cidade de Seraing, e sofreram com constantes greves enquanto estudavam, nos anos 60. Isso não impediu que Jean Pierre decidisse estudar Teatro em Bruxelas e Luc, Filosofia. Mais tarde, esse segundo ingressou na companhia de teatro do irmão, entrando em contato com as possibilidades polÃticas e criativas do vÃdeo e do cinema.
Regressando à cidade natal nos anos 70, eles começaram sua carreira de “um homem com quatro olhosâ€, fazendo “vÃdeos de intervenção†sobre as greves e o movimento operário. Em 1975, na produtora Dérives, fizeram documentários sobre temas diversos, como a resistência belga ao nazismo (Le chant du rossignol, de 1978), para a televisão.
Os irmãos se aventuraram na ficção somente na década de 80. O primeiro longa foi “Falschâ€, de 1986, seguido de “Je pense à vousâ€, de 1992, ambos bem recebidos nos festivais europeus. Mas foram “A promessa†e “Rosettaâ€, de 1997 e 1999, respectivamente, que estabeleceram e consagraram o estilo dos irmãos belgas no cinema de arte mundial.
Os dois contavam com as principais caracterÃsticas de Jean Pierre e Luc: a câmera na mão muito próxima aos atores; os roteiros simples, com um suspense que deriva de conflitos internos dos personagens, e não de reviravoltas na trama; o olhar crÃtico sobre uma Europa incomum, operária e cheia de dificuldades. “Rosettaâ€, descrito por eles como um filme de guerra – da protagonista desempregada contra um mundo em que ela não parece importar - iniciou o sucesso dos irmãos em Cannes, ganhando a Palma de Ouro e o prêmio de melhor atriz, para a estreante Emilie Dequenne.
Os Dardenne ainda dariam o prêmio de melhor ator para Olivier Gourmet (que trabalhava com eles desde “A promessaâ€) em 2002, por “O filhoâ€. O feito foi considerado uma das maiores façanhas da história de Cannes, já que o personagem, um marceneiro com propósitos secretos, é filmado de costas durante quase metade do filme (!).
O festival francês declarou seu amor incondicional aos Dardenne em 2005, com outra Palma de Ouro por “A criançaâ€; e em 2008, com o prêmio de melhor roteiro para
“O silêncio de Lornaâ€.
Jean Pierre e Luc