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Os dândis da Escócia e os santos de casa

Franz Ferdinand ao vivo – Fundição Progresso, Rio de Janeiro, 14/09/2006

por Rodrigo Ortega

Fotos: Fundição Progresso - Divulgação

O show dos escoceses do Franz Ferdinand na Fundição Progresso, no Rio de Janeiro, garantiu duas confirmações para os "São Tomés" do novo rock, aqueles que precisam ver para crer no hype. Primeiro porque a apresentação fez parte da turnê do disco You Could Have It So Much Better, que conseguiu repetir as vendas e o barulho do primeiro disco, homônimo, um dos álbuns mais incensados dos últimos anos. A segunda confirmação veio com o suor do público carioca, que encheu a casa e mostrou que o calor da apresentação anterior do Franz Ferdinand no Circo Voador, em fevereiro deste ano, não foi fogo de palha. Mas os "São Pedros" que ainda quiserem negar o nome do hype três vezes têm a última chance para fazer isto neste sábado, em São Paulo, no festival Motomix, onde o Franz Ferdinand vai encerrar uma série de três anos seguidos de shows pelo mundo.


Alex Kapranos: destreza com a franja

A abertura e o encerramento do show na Fundição Progresso rolaram com as canções de costume: o vocalista Alex Kapranos disse o "yeah" de "This Boy" antes de dizer oi e se despediu logo após os últimos acordes de "This Fire". Mas o público, que desde antes do show fazia coro até com "Yellow submarine" rolando de música ambiente, forçou uma saída antecipada e um segundo oi da banda: logo após "Come on home", segunda música do show, o empurra-empurra foi mais forte do que a grade na frente do palco. Alex foi super gracinha, conversou com o público e disse que o Rio foi o melhor lugar em que já tocou. Mas a banda precisou sair do palco por cinco minutos até que a produção conseguisse reforçar a grade e os fãs se acalmassem. O resultado da pausa foi ótimo: no resto da apresentação, a maior parte das pessoas extravazou a alegria em movimentos mais verticais do que horizontais, evitando atrapalhar os movimentos alheios.

Kapranos chamou atenção para si com duas táticas: balançou a franja com destreza e abriu os braços sem canastrice. O resto da banda dosou bem poses blasé e surtos de empolgação. "Take me out" e "Do you want to?", claro, foram os momento de mais pula-pula. A banda só deixou de fora do set uma música do primeiro disco ("Cheating on you") e cinco do segundo ("What you meant", "Well that was easy", "You're the reason I'm leaving", "Fade toghther" e "You could have it so much better"). As duas últimas fizeram falta aos meus ouvidos, mas, em compensação, eles brindaram o público brasileiro com duas canções raras: "Can't stop feeling" e a auto-colante "L. Wells".


Nick embaixo

No quesito "surtos de empolgação", o baterista Paul Thomson fez a diferença. De camisa preta com decote cavado, fez um discurso bêbado e inventou gritos esquisitos de "Riiiooo, Riiiooo" quando pegou no microfone. Mas a alegria de "gringo no Brasil" foi simpática por dois motivos: 1 - era seu aniversário, e Alex até comandou um "parabéns pra você" para ele. 2 - Paul balançou a cabeça e esmurrou a bateria como eu nunca vi antes. Pode considerar aí o fato de que eu nunca vi ele tocar de qualquer forma antes, mas a boa impressão continua. Créditos empolgacionais também para o guitarrista Nick McCarthy, que, lá pelas tantas, resolveu escalar o alambrado ao lado do palco. Subiu de repente, deu tchauzinho lá de cima e desceu com toda a calma do mundo.


Nick em cima (foto: Rodrigo Ortega)

Os ferdinandos alteraram com a sutileza de sempre o tempo e a melodia de algumas músicas. Uma das proezas foi melhorar ainda mais "The Fallen", com uma quantidade absurda de energia por acorde. Mas eles não ficam apenas na fórmula simples "pula aí que eu toco aqui". Em "Evil and a heathen", já no bis, as luzes do palco quase se apagam e eles aprontam uma barulheira que fez até imaginar a bizarra imagem de Alex Kapranos de jeans rasgado e camiseta. Em "Outsiders", eles pediram ajuda dos roadies para socarem três pares de baquetas em apenas um kit de bateria.


Tinha um pouco mais de gente do que no Circo

Na saída, foi difícil entender se foi tudo bagunça de banda indie ou truque de popstar. Talvez ambos, ou talvez uma grande tiração de onda com ambos: uma grande festa moderninha e um pequeno espetáculo de arena. Talvez os paulistas consigam desvendar melhor a questão, já que o guitarrista Nick McCarthy prometeu uma grande festa no palco ao final do show. Mas provavelmente as coisas vão ficar ainda mais confusas. Houve um abaixo-assinado pedindo para mudar a censura do show em São Paulo de 18 para 16 anos. Há uma semana, um amigo afirmou: "Pessoas desta idade ainda não conseguem entender o Franz Ferdinand". Mas, afinal, quem consegue?

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