É verão no hemisfério norte e os sortudos europeus vêem pipocar por todo canto festivais gigantescos, com line-ups de fazer qualquer indie brasileiro querer vender o rim. Na Bélgica, o Pukkelpop trouxe mais de 170 bandas entre os dias 17 e 19 de agosto, e a gente foi lá conferir o show do Yeah Yeah Yeahs, que em outubro vem dar os ares da graça aqui no Brasil.

O véu de Karen O
Karen O, a estilosa vocalista de olhos puxados, apareceu no palco com um ar meio tĂmido, vestindo maiĂ´ e meia-calça, Ă la “dancing days”. Ou como Madonna em “Hung Up”, para uma referĂŞncia do sĂ©culo XXI. Enrolada num reluzente vĂ©u bonina, a cantora sussurra os primeiros versos de “Turn Into”, com pinta de santa. Mas a pose de boa menina se desfaz assim que a guitarra de Nick Zinner e a bateria de Brian Chase passam das preliminares e começam a descarregar toda a energia do som da banda nova-iorquina.
O trio fez uma apresentação de pura simpatia, boa mĂşsica e... preparo fĂsico. Era impressionante. Karen rolava no chĂŁo, fazia acrobacias quase olĂmpicas e inventava coreografias pouco inocentes jogando os microfones (sim, eram dois) para todos os lados. Enrolava-se nos fios e preocupava os tĂ©cnicos de apoio, que a cada dois minutos eram obrigados a correr ao palco para impedir que o entusiasmo da cantora acabasse em acidentes.
As versões ao vivo não trouxeram inovações em relação às dos CDs, o que não foi um problema. A banda tem um som bem produzido no estúdio e bem reproduzido no palco. Portanto, nada a reclamar. Num tempo relativamente pequeno (por volta de 50 minutos), a banda despejou um setlist que juntou o “choque” de Fever To Tell (2003) e a qualidade amadurecida de Show Your Bones (2006).

O alongamento de Karen O
Com versatilidade, os Yeah Yeah Yeahs tinham a platĂ©ia nas mĂŁos. Considerem aqui, as vinte primeiras filas, porque nĂŁo deu pra ver o resto. Numa hora, o pĂşblico era sĂł gritos e moshs (ápice: refrões de “Pin” e “Y control”). Em outra, a platĂ©ia construĂa um coral de snif-snif’s disfarçados e vozes roucas acompanhando Karen nas baladas “Warrior” e “Maps”.
Esta última foi dedicada às esposas/namoradas dos outros integrantes da banda, ao grupo TV On The Radio, que fez um show impressionante na noite anterior, e aos fãs. O pessoal agradeceu a homenagem cantando os versos “Wait, they don’t love like I love you”, estampados em 80% das camisetas dos seres que se espremiam nas primeiras filas. Foi este, com certeza, o momento mais bonito do show.
Diante de um pĂşblico que, em sua maioria, assiste a grandes shows de rock com menos entusiasmo que a um jogo de xadrez, o YYY’s foi bem. A maior parte do pĂşblico ficou com braços descruzados e sem cara de blasĂ©. A banda teve o mĂ©rito de conseguir mexer, e mexer bem, a mornĂssima platĂ©ia do Pukkelpop – privilĂ©gio que a grande maioria dos grupos do festival nĂŁo alcançou. Esse vĂ©u de Karen faz milagres...