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Teoria e prática

Gram ao vivo no Teatro Odisséia – Rio de Janeiro, 19/09/2006

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por Rodrigo Ortega
(texto e fotos)

(No meio do show, Sérgio Filho disse que ia chamar um convidado especial. Entrou Tato, vocalista do Falamansa, que abraçou o microfone e cantou uma versão impecável de "Where is my mind?", dos Pixies. Pela segunda vez, pra garantir que você leu certo: entrou Tato, vocalista do Falamansa, que abraçou o microfone e cantou uma versão impecável de "Where is my mind?", dos Pixies. Essa parte fica entre parênteses mesmo e sem nenhuma ligação com o resto do texto. Porque, sinceramente, nunca vou conseguir fazer nenhuma ligação ou dar nenhum sentido ao momento em que entrou Tato, vocalista do Falamansa, que abraçou o microfone e cantou uma versão impecável de "Where is my mind?", dos Pixies.)


Mexe, mexe, mexe com as mãos

Menino e menina

Primeira teoria (minha): Gram é rock de menina. Juro que formulei a teoria com todo o carinho. Faz sentido, eu acho. Eles são donos da fofura em forma de videoclipe (a saga do gatinho de "Você pode ir na janela"), cantam letras sensíveis e melodias que em geral não incentivam aquele sujeito bêbado a se aventurar em um mosh. As meninas, teoricamente mais sensíveis, seriam maioria entre os fãs da banda. Agora pense que você é uma amiga de 1,65 m e está rodeada de dezenas, centenas de caras, a maioria com mais de 1,80 m, pulando em frente a outros cinco marmanjos cantando "E o prêmio foi notar / que fui cego e iludido". Pronto, você caiu na minha teoria furada e está no Teatro Odisséia, no primeiro show do segundo disco dos paulistas do Gram, Seu Minuto, Meu Segundo. A situação dá muito mais moral à segunda teoria (da amiga): os rapazes hoje estão muito tristonhos. A faixa dos versos anteriores, "Quase ilusão", e as outras velhas conhecidas "Você pode ir na janela", "É a vida" e "Seu troféu", foram as que mais animaram os tais rapazes.

Peso e leveza

Primeira teoria (de um amigo): o disco novo está mais leve. Essa veio de comentários antes do show. Eu soltei a segunda teoria, oposta: o disco novo é muito pesado. Ele logo retrucou: "poxa, mas ouvi falar o contrário, o disco tem menos guitarras". Ok, pois o disco tem menos daquelas distorções que fazem cosquinhas nos ouvidos, em comparação com o primeiro. Mas eu quis dizer "pesado" no sentido de triste, soturno. Se o primeiro é "moonshine", o segundo é "sunshade". Na teoria, este seria o único parágrafo do texto em que uma tese minha deu certo. Mas eu estava em um dia de "não conseguir", ouvindo músicas sobre "não conseguir". "Não conseguir" é um verbo intransitivo. Ao vivo, o Gram fez as músicas velhas, as antigas e os covers fazerem cosquinhas nos ouvido (peso no sentido rrrock mesmo) e meu ok foi por água abaixo. Uma faixa nova e provável hit, "Parte de mim", foi uma das que mais engordou ao vivo.


Mexe, mexe, mexe a cabeça

Blasé e Afetado

Uma teoria (da amiga): "blasé" é o oposto de "afetado". Com essa eu não concordei muito. Eu acho que algumas pessoas muito legais têm direito de ser blasé sem serem afetadas, mas outras são as duas coisas ao mesmo tempo, portanto estas não são características excludentes. Ela discordou. Enfim, haviam dois copos de caipirinha entre uma fala e outra. Depois do papo etílico, ficamos surpresos com o Sérgio Filho dando pulos, abrindo braços, sorrisos e dançando a la Chris Martin no palco apertado do Odisséia. O clímax da nova "Antes do fim" é quase legiãourbânico. Aí surgiu um comentário bem sóbrio: "Esse vocalista não é nada blasé".

Novo e antigo

Uma teoria (geral): O ingresso é o mesmo, mas tem gente que vai na Yeah Yeah Yeahs e tem gente que vai na Patti Smith. A última teoria é sobre a programação deste ano do Tim Festival, em que as duas atrações dividem o palco, mas pode delimitar toda a humanidade em dois tipos de pessoas: as que querem ser "mudernas" e as que preferem os clássicos. Os integrantes do Gram também têm uma banda cover de Beatles e apresentam visual e som que os colocam bem mais do lado dos clássicos. Mas para afirmar isso é preciso colocar debaixo do tapete o DJ Nuts, que incrementa o show dos caras com mil beats e scratches, e tapar o ouvido na última faixa do disco e uma das últimas do show, a ótima "Seu minuto, meu segundo". Bumbos dançantes e dinâmicas no melhor estilo Killers dão uma rasteira em quem acha que o Gram não serve para pular na ponta do Allstar no auge de uma festa indie. Boa trilha para dançar de olhos fechados e esquecer todas estas teorias bobas, cuja única utilidade é dar errado e nos divertir com nossa própria habilidade em "não conseguir".

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