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Mostra Magia do Cinema - Poços de Caldas, Divisa Nova, Alfenas, Varginha e Formiga - 01/12 a 05/12

Ó Minas Gerais...

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Confira aqui o diário de bordo de nosso intrépido repórter nas suas (des)venturas pelo interior de Minas, acompanhando a Mostra Magia do Cinema.

Poços de Caldas - 01/12

O início da longa viagem de Ipatinga até Poços de Caldas já dava indícios de como as coisas poderiam ser. O assento vago ao meu lado sugeria uma viagem boa e a velha senhora da poltrona de trás que contava casos em voz (muito) alta, para o ar, indicava que seria também uma viagem muito louca.

Na parada de Perdões, o primeiro inusitado: uma menina, que embarcara em João Monlevade senta em um banco e diz: “estou cansada. Não quero mais viajarâ€. O que, a princípio, parecia ser um desabafo, transformou-se numa novela. A garota não parecia ser totalmente sã, mas aquilo havia passado despercebido até então. O saldo foi exatos 60 minutos de espera e tentativas frustradas de convencimento. O ônibus partiu com um passageiro a menos e uma hora de atraso. Eduarda – um dos vários nomes que a garota deu e o que acabou “pegando†– ficou com policiais que prometeram encaminhá-la à família, embora ainda ninguém estivesse totalmente certo se esta se encontrava em Varginha ou em Teófilo Otoni (?!).


Esses aí estavam de olho na pipoca desde cedo

O acontecido fez com que as coisas ficassem corridas para o jornalista. Chegando ao destino, os pés-de-café me fizeram lembrar das aulas de História. “Se Minas dá leite e São Paulo dá café, Poços de Caldas é mesmo um pedacinho de cada estadoâ€. Ao chegar à rodoviária, uma alterada mocinha berrava ao celular, confirmando minha hipótese: “uai, se você diz que vem eu vou esperarrrrrrrrrrâ€.

Esperar era o que eu, definitivamente, não podia. Em meia hora, cheguei ao hotel, deixei o que não seria necessário, tomei banho e rumei para o projeto Magia do Cinema, um evento que, desde o último dia 23, vem percorrendo municípios do Triângulo Mineiro e do Sul de Minas, levando sessões gratuitas de cinema ao ar livre. Nesta noite, a equipe aportaria na Cohab de Poços de Caldas.


"Crianças que atrapalham a exibição vão se ver conosco"

Os filmes exibidos em cada noite do projeto são os mesmos: o curta “Acorda, Raimundo, acordaâ€, seguido pela estrela da companhia, “A Era do Gelo 2â€, que explica o público essencialmente infantil. A primeira dúvida que me surgiu à cabeça foi solucionada pelos produtores do evento. Por que uma animação estrangeira e, sobretudo, por que uma continuação? "Era do Gelo 2 é um ótimo filme, que independe do original". Então, tá.

O grande número de crianças que aguardavam a projeção endossava a escolha do longa. Por volta de duas horas para o início, os pimpolhos deixavam poucas cadeiras vagas. Na hora do filme rodar, porém, os organizadores pediram aos pequenos que se sentassem na lona à frente das cadeiras, deixando o assento para os não tão jovens. Só aí pôde se ter noção de que ir ao cinema ver desenho animado não era programa apenas dos pequenos.

O início do filme é, sem dúvida, o momento de maior frisson. Crianças e adultos berram quando o título aparece na tela. Claro que é difícil manter as crianças quietas quando há pipoca à vontade e elas acabam descobrindo que jogar pedaços de papel na frente do projetor pode causar um efeito estético de gosto duvidoso, adorado pelo autor e odiado por todos a sua volta.


A "sala" já estava cheia duas horas antes do filme

Durante o filme, produtores e o próprio jornalista viram “tios†dos pequenos. “Tio, ela está furando a fila da pipoca!â€. “Tio, ele passou a mão na minha bunda!â€. Queixas das mais diversas. Mas, no fundo, todos estavam adorando a farra.

Entre os produtores, a brincadeira era descobrir quem sabia mais falas do filme de cor. Natural quando se assiste o mesmo filme pela vigésima vez, dia após dia. Por fim, todos deixam o local satisfeitos. É inevitável que a comparação venha à cabeça: “se um adulto como eu, que vai ao cinema toda semana, ainda é capaz de se surpreender com o esmero de uma produção como ‘A Era do Gelo 2’, imagine uma criança que vê pela primeira vez um filme deste quilate numa tela grandonaâ€.

Mas não são apenas as crianças que ganham. A troca cultural que ocorre durante essas poucas horas é intensa. “Aqui, tio, em vez de falarmos ‘eu te amo’, falamos ‘vorrrrrrrtaâ€, me explicou uma menina de oito anos. Assim mesmo, com esse tanto de “erres†e também com um tanto de auto-deboche. Agora, estou por dentro da última gíria caldense.

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