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Acarajé com tutu

Pitty e Udora ao vivo – Music Hall, BH, 03/02/06

por Mariana Marques e Suellen Dias
(Texto e fotos)

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- Que música é essa que está tocando?
- Não sei. Meio emo. O nosso editor provavelmente saberia.

- Que camisa é essa? De que banda?
- Se não fosse verde-bebê, eu diria que era do Ramones.
- Ué, não é que está mesmo escrito Ramones?
- Ah, então deve ser falsa. Ou a fã ou a camiseta.

- O que eles estão gritando?
- Acho que é “Pitty gostosa!â€


Pitty from hell

Meio perdidas e tentando entender aquele universo adolescente, que deixamos para trás nem há tanto tempo. Assim estávamos no show da Pitty, com abertura do Udora, que aconteceu no Music Hall, a mais nova casa de shows de Belo Horizonte. O lugar é vendido como “a casa de shows que faltava em BHâ€. Não foi difícil comprar o rótulo, já que o local onde acontece a maioria dos shows na capital mineira está mais para um ginásio de vôlei.

Antes do show, o lugar fica mais parecido com uma boate. Enquanto esperavam pela cantora baiana, as pessoas na pista se animavam e cantavam bem alto “Vertigoâ€, do U2. O mais divertido foi tentar descobrir que músicas os “DJs†do lugar escolhiam para manter a animação dos teens. Já desconfiávamos de que qualquer coisa que tocasse não abalaria o ritmo “frenético†dos fãs da Pitty. Até que começaram uns acordezinhos mais calmos dos The Thrills. Um balde de água morna no pique dos garotos, que aproveitaram a deixa pra ir buscar um refrigerante.

Menino que devia ter 15 anos: ei, vocês querem conhecer um amigo meu?
- Não, obrigada, estamos trabalhando.
O amigo: ela falou o quê? Que tem namorado?
Menino que devia ter 15 anos: não, que está trabalhando.
- A gente tem que ir, entrevistar as bandas, ok? Tchau.
Menino que devia ter 15 anos: ah, que isso, só pensa em ganhar dinheiro?
- Hmmm... Quantos anos vocês têm?
Menino que devia ter 15 anos: eu 18, ele 20.


Udora from BH

Grande parte do público era formada por meninas, que se vestiam como Pitty. Tinham também os meninos fãs da Pitty, que sem o apoio da saia e coturno, estampavam o estilo roqueiro em suas camisetas escuras. A “velha guarda†também estava presente: muitos pais levaram seus filhos para o show e, para alguns, o programa parecia mais do que prazeroso, tocavam suas air guitars mais empolgados que seus garotos. Difícil era reconhecer algum fã do Udora por ali.

Mesmo assim, a banda que antes chamava Diesel fez um bom show e empolgou o público. Houve um erro apenas no final, quando o vocalista, Gustavo Drummond, disse “podemos tocar mais duas?â€. “Nãaaaooo†foi o que se ouviu, seguido de “Pitty! Pitty! Pitty!â€. Mas a banda acertou ao passar por cima do constrangimento e tocar mesmo assim.

A baiana chegou ao palco com "Anacrônico", de seu mais recente CD de mesmo nome. A platéía cantava e os fãs mais histéricos embolavam as letras em meio aos berros de “Pitty eu te amoâ€. Em "Admirável Chip Novo", a cantoria prosseguiu, mantendo-se praticamente em todas as músicas, menos nos momentos em que a cantora arriscou uma versão esquisita (e não muito bem sucedida) de “Besa-me Mucho†e atrapalhados malabarismos vocais com “Glory Boxâ€, do Portishead.

Jornalista de um grande jornal mineiro, que não é “o grande jornal dos mineirosâ€: Vocês vão entrevistar a Pitty?
- Aham.
- Hmm... Podem bater uma foto minha quando eu estiver entrevistando?
- É, vamos ver como vai ser na hora. Se for possível...
- Vocês têm papel? Me emprestam?
- Pode pegar.
- Obrigada. É pra pegar autógrafo para o pessoal do jornal, acreditam?
- Errr...
- O que vocês vão perguntar a ela?
- Hmmm... Depende.
- Não adianta vir com muita pergunta pronta, que na hora sempre muda, né?


Pitty from heaven

Pitty é sincera. Fala “porra†sem hesitar, reclama do calor – a casa realmente estava quente – e ainda assume uma quase diarréia. “Fui inventar de comer um tutu agoraâ€, fala, sem vergonha mesmo. Ainda bem que ela tinha um banheiro exclusivo no camarim, já que, para quem não pagou camarote, a opção era usar banheiros químicos. A gente espera de coração que isso seja apenas porque a casa ainda está começando.

Voltando à sinceridade, é uma coisa legal ver que ela estava presente tanto no palco, quanto na platéia. E não é preciso ser fã para saber cantar praticamente todas as canções tocadas ali. Pitty possui tantos hits executados por rádios e clipes veiculados em TV que era fácil fazer o Music Hall cantar determinada parte de alguma música. Era um pouco como entrar num estádio de futebol em dia de clássico: às vezes parece exagero, às vezes assusta, mas quem sabe que gente é um bicho com sentimento entende direitinho. E gostar de verdade de música, seja ela qual for, é saber disso e achar o espetáculo bacana, mesmo quando não se é fã.

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