Overdose O amor não tem regras Sex, charm & gags por Isabella Goulart receite essa matéria para um amigo
George Clooney é um cara legal. Mas isso não bastou para que seu último filme na direção, “O amor não tem regrasâ€, tivesse sua estréia nos cinemas cancelada no Brasil. O fracasso nas bilheterias dos EUA teve peso determinante nisso. E pode ser explicado, em parte, pelo fato do público não ter comprado a proposta do galã diretor: um filme passado na década de 20, feito como nos anos 30/40.
Complicou? O PÃlula te ajuda a entender.
Tudo começa nos anos 20, quando George Clooney embarcou na odisséia de uma fuga da prisão, em “O Brother, Where Art Thou?â€, de 2000, dirigido por Joel Coen. “E aà meu irmão, cadê você?†(no Brasil), por sua vez, é o filme que Sullivan (personagem de Joel McRea) tentou sem sucesso produzir em 1941 em “Contrastes Humanosâ€, de Preston Sturges.
A viagem (ou fuga, como preferir) culminaria em 2007, quando o intrépido Clooney se aventurou mais uma vez dos dois lados da câmera e fez um filme como se fosse...Preston Sturges. Se a confusão te assusta, não se preocupe: ela faz parte dos domÃnios do slapstick. Acompanhe as fotos, o texto e não controle as risadas.
Uma questão de comédia
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Slapstick é comédia fÃsica, o conhecido “pastelãoâ€, e veio - como quase tudo no inÃcio do cinema - do teatro. O domÃnio do slapstick, redefinido para a tela grande, foi tamanho no perÃodo silencioso, que se dizia que o cinema mudo nos Estados Unidos era uma questão de comédia.
A primeira risada
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Os Keystone Cops
Nos primeiros filmes do pioneiro Mack Sennett, as histórias eram um conjunto de gags sem pretensão moral. Ele criou os Keystone Cops (policiais desajeitados) e as Bathing Beauties, arquétipos ainda vivos hoje em humorÃsticos de TV e nos besteiróis americanos. Sennett, “the king of comedyâ€, foi o maior produtor do gênero no cinema mudo. Dentre suas muitas descobertas, encontra-se ninguém menos que Charles Chaplin.
Sorrisos modernos
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A dimensão ética e polÃtica adicionada em fins dos anos 1910 e 20 deram metáfora e sentido à mise-én-scene da comédia. Enquanto Griffith fazia filmes “respeitáveisâ€, inspirado na literatura e no teatro do século XIX, Chaplin e o slapstick olharam para frente, em direção ao DadaÃsmo e ao Surrealismo. Nos filmes desta fase, a ação fÃsica expressava moralidade.
Keaton: qual é a graça?
Os comediantes se perguntavam como o indivÃduo poderia enfrentar a sociedade industrial e o poder polÃtico, preocupação tÃpica da modernidade. Enquanto Chaplin foi o mais humano, polÃtico e universal, sobretudo através do vagabundo Carlitos (possivelmente o personagem mais famoso do cinema), Harold Lloyd foi o mais fÃsico e abstrato, com a figura do americano médio, comum e apagado. Já Buster Keaton foi apelidado de “o homem que não ria†por manter o rosto sempre impassÃvel durante as corridas, quedas e fugas de suas histórias deliciosamente surrealistas.
All talking!
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Chaplin, As luzes da cidade e um dos finais mais emocionantes do cinema.
Quando o cinema começou a falar, em 1927, Chaplin soube: a perfeição que a linguagem silenciosa atingira ficaria para trás. Ele se recusou a fazer filmes falados durante toda a década de 30. “Luzes da Cidade†(1931), “Tempos Modernos†(1936) e “O Grande Ditador†(1940) são resistências silenciosas (ou quase) ao fim de uma era.
All singing!
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Hardy & Laurel
Poucos comediantes conseguiram manter seu vigor com a chegada do som. Mas, no fim dos anos 20, o americano Oliver Hardy e o inglês Stan Laurel apareceram juntos numa série de filmes, formando uma dupla adorada na década de 30. O Gordo e o Magro migraram com sucesso para o sonoro, combinando as gags fÃsicas do slapstick com o sotaque britânico de Laurel e o sulista de Hardy.
All dancing!
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Irmãos Marx e Pais dos Trapalhões
A comédia em grupo funcionou melhor na novidade do som que as bandas de um homem só do cinema mudo. Também ficaram famosos um quinteto vindo da Broadway – Chico, Harpo, Grouxo, Gummo e Zeppo, os Irmãos Marx – e Os Três Patetas. As piadas orais e fÃsicas acompanhavam estereótipos que cada indivÃduo interpretava nos shows. O pastelão sobrevivia.
Guerra dos sexos
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Outras mudanças afetaram o cinema americano. Com o crack da bolsa em 1929 e a mulher no mercado de trabalho, surgiu o embrião da comédia-romântica: a screwball comedy (“comédia maluca†ou “imprevisÃvelâ€). As escapatórias criadas numa época em que nada podia ser explÃcito vieram a calhar. Nessa “comédia sexual sem sexoâ€, homem e mulher, claramente apaixonados, resistiam ao amor e se enfrentavam em pé de igualdade até se renderem aos sentimentos. A mulher ganhou uma força que só teria novamente no cinema noir.
Grant & sua garota sexta-feira.
As screwballs foram muito populares nos anos 30 e 40. A comédia fÃsica, quase dolorosa, se combinava agora aos ácidos confrontos verbais de um texto afiado. Atores famosos eram colocados em situações frenéticas das mais absurdas por diretores lendários.
Guerra das estrelas
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Grant & sua levada da breca.
Tudo com a elegância tÃpica do quase onipresente Cary Grant, divertidÃssimo em um “Jejum de Amor†com Rosalind Russel, sob o comando de Howard Hawks; e com a “Levada da Breca†Katherine Hepburn. Hepburn e Grant se encontraram com James Stewart em suas “Núpcias de Escândaloâ€, de George Cukor. E Grant descobriu com Irene Dunne que “Cupido é Moleque Teimosoâ€, de Leo McCarey.
Aconteceu naquela noite para Gable & Colbert,
O encontro de Claudette Colbert e Clark Gable “Aconteceu Naquela Noiteâ€, de Frank Capra. Com Joel McRea, Colbert foi “Mulher de Verdadeâ€, de Preston Sturges; e teve outro encontro à “Meia-Noiteâ€, só que com John Barrymore, dirigida por Mitchel Leisen. Leisen, por sua vez, fez de Carole Lombard e Fred McMurray “Corações Unidosâ€. A dupla foi comandada por William K. Howard em “A princesa do Brooklynâ€. E finalmente, Lombard foi “Irene, a Teimosa†para William Powell, dirigido por Gregory La Cava.
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Dizem que Clooney é o Grant de nossos dias. Em “O Amor Não Tem Regrasâ€, de volta aos anos 20, ele trava com Renée Zellweger uma guerra dos sexos como a dos anos 30 e 40. O que fecha nosso cÃrculo com uma dúvida: como o público pôde resistir ao Clooney de hoje e à s gags, alfinetadas e risos de outrora? Confira em breve nas locadoras*.
*Em tempo: a distribuidora não havia confirmado a data de lançamento do DVD de “O amor não tem regras†quando do fechamento deste texto.
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