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Um festival, cinco moças e alguns amigos

Motomix 2008, Parque do Ibirapuera, 28 de junho de 2008

por Daniel Oliveira

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Parque do Ibirapuera, São Paulo, três horas da tarde. Não faz tanto frio como se esperaria de um dia de fim de junho na terra da garoa e sigo meu caminho pela entrada do portão três em direção ao Motomix. Na verdade, não sigo caminho nenhum. Não sei para onde estou indo, não há placas ou indicações de onde o festival está acontecendo e os seguranças também não têm certeza de nada.

Depois de esbarrar na bilheteria da exposição do “Star wars†e de dar aquele giro de 360º de caipira na cidade grande, começo a escutar uma música e passo a seguí-la. Uns quinze minutos depois, chego ao Motomix, encontro meu amigo BL, entrego seu presente de aniversário (no que ele me xinga e faz cara feia) e me credencio na sala de imprensa antes de seguir correndo para a frente do palco.

Banners por todos os lados gritavam ser esse The rokr festival, mas era mais um The fashionrokydancelectricgirls festival. O lineup foi dominado por bandas com mocinhas no vocal, algo de que meu amigo PM iria gostar. A única exceção era o Fujiya & Miyagi - trio de que meu amigo FG iria gostar. Mas estou me atravessando. Vamos pela ordem.

Garotas nacionais

por

Fotos: Divulgação

O momento lost no Ibirapuera fez com que eu perdesse quase todo o show do Venus Volts, banda de Campinas. Aquele som que eu segui para chegar ao palco era deles e me pareceu legal – segundo o release, “um mix de punk, distorções características da década de 80 e indie popâ€. A mocinha da vez era a vocalista Trinity que, como não pude conferir muito, não sei dizer qual era o estilo, a frase ou o tipo de dança.

O fato de ser no Parque do Ibirapuera (e, é bom dizer, grátis) fez com que o Motomix trabalhasse em cima do relógio. A primeira banda começou às 15h em ponto e o festival terminou antes das 22h. As transições de palco eram rápidas e sem muita enrolação.

O único problema disso é que as bandas nacionais tocaram para um público bem menor que as gringas. Nem todo mundo quis encarar um parque ensolarado à tarde para conferir a prata da casa.


Geanine Marques, o vestido de franjinhas e o sorriso delícia.

Com isso, quando o Stop play moon apareceu no palco, havia um bom número de pessoas assistindo, pero no mucho. O trio de São Paulo mistura Goldfrapp com algo do Portishead, para não ser tão bom quanto um nem outro. Não que o show seja ruim, mas as músicas comandadas pelas guitarras e sintetizadores de Paulo Bega e Ricardo Athayde tendem a se tornar repetitivas com o passar do tempo.

A luz do trio, porém, é a simpatia over-gracinha da vocalista curitibana Geanine Marques. Com seu vestido lilás de franjinhas, cabelo loiro amarrado perfeitamente em um rabo de cavalo e bota combinando, a mocinha hipnotizava marmanjos da platéia ao dançar, dobrando os gambitos que vestido e bota deixavam de fora. Acho que minha amiga MM diria que ela é muito fashion, ainda que muito magrinha. Por fim, mesmo que seu vocal se restringisse na maioria das vezes a repetir a mesma frase, cantar não é exatamente o forte de sua performance.

Ficha técnica

Geanine Marques

Estilo: Vestido de franjinha, faz coração com os dedos e manda beijo para o público.

Dança: Dobrada de joelhos e giros ao som das guitarras e sintetizadores etéreos.

Frase: “Foi uma delícia tocar pra vocês hoje!â€


A moça do Nancy estava triste e eu não sei por que.

Se a voz de Geanine não era fantástica, ela não irritava tanto quanto os falsetes de Camila Zamith, vocalista do Nancy. O grupo de Brasília fez um som deprê e deslocado da tônica upbeat eletrônica do resto do festival. A bateria era lenta, o vocal não permitia entender muito o que era cantado e, se meu amigo GM estivesse lá, acho que ele ia dizer que a banda parecia meio emo (apesar de, surrealisticamente, terem agradecido ao Carlinhos Brown e ao Chiclete com banana antes da última música).

Ficha técnica

Camila Zamith

Estilo: Cabelo preto curto, roupas sóbrias, atitude melancólica condizente com o vocal.

Dança: Poucos movimentos em frente ao pedestal do microfone.

Frase: “Gente, eu queria pedir uma salva de palmas para o som!â€

O feio

por

Fotos: Divulgação

Quando os intrusos do Fujiya & Miyagi subiram ao palco com seus tijolinhos coloridos e animados no telão, o dia tinha escurecido um pouco e a arena Motomix já estava um tanto mais cheia. Isso, junto com uma quantidade maior de cerveja no sangue, colaborou para que o público enfim se rendesse a um show do festival.

Não que fosse muito difícil. O trio londrino parece uma versão britânica dos Beastie boys, com sua mistura estranhamente agradável e contagiante de hip hop, eletrônico e rock. É impressionante como a repetição de insanidades como “Vanilla, strawberry, knickerboxer glory†pode ser divertida e dançante.


David e seu casaco mostarda-Kill Bill.

Ah, e eles eram intrusos, claro, por serem a única banda sem garotas no vocal. Assumia o posto o também guitarrista David Best, com um agasalho mostarda-Kill Bill muito bonito e uma dancinha pendular em frente ao microfone, que não consegui não apelidar de fuckdancing.

Mas foi a mistura de Kraftwerk e LCD Soundsystem, só que mais pop e menos barulhento, que contagiou o público. Algo que Quentin Tarantino poderia usar em seus filmes e que, como já dito, meu amigo (e webdesigner do Pílula) FG com certeza acharia o máximo. E para que não se credite tudo à cerveja, no fim do show percebi um cara super animado dançando ao meu lado com uma latinha de Kuat na mão.

Ficha técnica

David Best

Estilo: Agasalho mostarda, com listra vermelha nos braços (que ele jogou no chão ao final do show porque ele é britânico e muito cool).

Dança: Pélvis para frente e para trás no ritmo das batidas eletrônicas - o fuckdancing.

Frase: “Vanilla, strawberry, knickerboxer gloryâ€

A suja

por

Fotos: Divulgação

Uma negra inglesa (com pai nigeriano e mãe egípcia) de blusa azul, saia vermelha e uma meia listrada até a coxa, parecendo heroína de anime japonês. Uma japonesa vestida como uma jovem francesa indie e descolada. Um inglês cabeludo com camiseta de basquete norte-americano.


Não, você não viu errado. São duas baterias no palco.

Esquizofrenia é a única palavra que eu consigo pensar para definir o The go team. O show do coletivo britânico é o sugar rush psicodélico, colorido, insano, kitsch e over do filme “Speed racer†transposto para um palco musical. Pode ser que, como eu, muita gente não conhecesse o trabalho do grupo antes do show. Mas eles ganharam o público do Motomix pela insistência. E pela sua energia 220v de coelhinho Duracell.

O público já chegava aos cerca de 6 mil que fechariam a noite no Ibirapuera. E foi cada um deles que a vocalista Ninja contagiou com suas danças espalhafatosas, que misturavam Macarena com toques africanos, sua espontaneidade quase vergonhosa e a invenção genial do português com sotaque britânico. Bem, quase cada um deles, já que meu amigo BL achou os caras simplesmente uma bagunça e não se empolgou muito. O que me fez sentir a falta de minha amiga SD, com quem eu criaria dancinhas insanas durante o show.

Bagunça não é a palavra exata tanto quanto caos. O show do The go team é um mosaico sonoro de performance à la Arcade Fire, com os seis integrantes se revezando nos instrumentos. E, quando você pisca, surge um banjo, uma gaita ou um instrumento totalmente inusitado para compor com as DUAS baterias do grupo.


Ninja é feliz. Muito, muito, muito feliz.

Mas o divertido mesmo são as programações que jogam trilhas de seriados dos anos 60, desenhos japoneses e videogames no meio das músicas, dando um ritmo irresistivelmente pop a elas. Os raps de Ninja no vocal acabam se perdendo no meio do som, o que não importa muito porque sua função principal é mais animar o público do que somente cantar.

E isso ela faz como ninguém. Ninja é uma versão indie-britânica do vocalista do Chiclete com banana. E sua performance me fez admitir, pela primeira vez, que eu seguiria atrás de um trio elétrico, se fosse o The go team lá em cima. Deixo a dica para os produtores carnavalescos de plantão.

Ficha técnica

Ninja (ou Nkechi Ka Egenamba)

Estilo: Blusa azul, minissaia vermelha, meia listrada e pouco importa se aparecer as roupas de baixo. O lance é se divertir.

Dança: Todas, de todos os tipos, gêneros, formas e movimentos. Quanto mais amplo e insano, melhor.

Frase: “Música nova!†(no recém-inventado português com sotaque britânico)

E a brava

por

Fotos: Divulgação

Toda a classe e elegância que faltam à performance esquizofrênica de Ninja sobram em Emily Haines, vocalista do Metric. Sem sentir o peso do animadíssimo show anterior, a loira chegou ao palco para matar. Iniciou seu desfile de petardos com “Dead disco†e deixou bem claro desde então quem era a rainha (nórdica e über-fashion) da noite.

Com sua voz agressivamente macia, sua atenção dividida entre dois teclados e uma dancinha elegantemente desengonçada, comandou o show mais equilibrado e tecnicamente admirável do festival. Vestindo uma espécie de macacão roxo brilhante, que deixava suas belas pernas de fora, a moça foi um perigo para o coração dos indies de idade mais avançada. Especialmente quando balançava sua cabeça roqueira em “Emptyâ€, ou ao transformar “Live it out†em uma balada quase acústica no final do show.


Shake your head, it's empty.

O setlist foi composto majoritariamente por canções dos dois últimos CDs do quarteto canadense, “Old world underground, where are you now?†(2003) e “Live it out†(2005). Os pontos altos da noite foram a participação do público em Handshakes, cantando o epitáfio contemporâneo “Buy this car to drive to work. Drive to work to pay for this carâ€; a performance sexy e o sorriso de Haynes durante Combat baby, chegando ao chão (com muita classe, claro) no final; e...

...um dos momentos mais divertidos da noite quando, ao final de Rock me now, Emily pediu que o público acompanhasse os oh, oh, oh, ah, ah, ah da vocalização. Só que o som do palco estava muito alto e a vocalista não conseguia ouvir a galera. Que, com dozinha, resolveu bater palmas para demonstrar sua animação. Ao que Emily, a brava, respondeu “Less clapping and more singing!â€.

Brava, mas com coração, a vocalista desceu no gargarejo e fugiu dos seguranças para abraçar as pessoas. Emily parece um pouco JV, que não é tanto minha amiga quanto é do FG, mas é tão fashion e elegante quanto. Haynes parecia realmente feliz de tocar no Brasil e toda vez que agradecia, a voz branda e o sorriso não deixavam dúvidas de sua sinceridade. Faltou Police and the private, uma das minhas favoritas, mas o público foi agraciado com uma música do próximo CD, Stadium love.


Emily é brava assim.

E assim o Metric encerrou a noite com Emily, a brava de sorriso manso e a melhor dançarina que não sabe dançar, ganhando o coração dos indies brasileiros. Combat baby, come back.

Ficha técnica

Emily Haines

Estilo: Macacão roxo curto brilhante, com uma espécie de shortinho e frente única de parar o trânsito.

Dança: A melhor dançarina que não sabe dançar da noite.

Frase: “Less clapping and more singing!â€

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