Busca

»»

Cadastro



»» enviar

Justice ao vivo

Circo Voador, Rio de Janeiro, 26/09/2008

por Rodrigo Ortega

receite essa matéria para um amigo


"D.A.N.C.E."

O ingresso custava 80 reais e as pessoas eram exageradamente bonitas e bem vestidas. O comentário sobre a música que o duo francês Justice fez para a nova coleção da Dior serve também para o seu primeiro show no Brasil, no palco carioca do Circo Voador: mesmo fazendo música eletrônica pra desfile de moda, é difícil achar um artista mais hardcore do que o Justice hoje em dia (talvez a Amy Winehouse ou menina Maísa).

Algumas pessoas dançavam sem se preocupar em ficar de frente para o palco, como se faz em uma boate ou uma rave. Mas as duas dezenas de caixas Marshall emplilhadas na frente do palco, rodeando uma cruz iluminada, a jaqueta de couro de Xavier, a camisa do Ted Nugent de Gaspard, o remix de "Master of Puppets" do Metallica ou as três dezenas de cigarros que eles fumam durante a apresentação tornam mais óbvia a vontade da banda: ser o mais "rock" que um artista pode ser hoje em dia (mais no espírito que no som), mesmo não chegando nem perto de uma guitarra, apenas mexendo em botões e tocando músicas com refrões tipo "disco disco disco disco disco".

A dúvida se aquilo ali era um show de heavy metal ou um DJ set não é mais importante do que o fato de tanta gente ter saído correndo desesperada do banheiro para não perder quando começou a tocar "DVNO" ou cantado junto o verso filho-da-puta de viciante de "Never be alone" (abaixo), que foi repetido no último bis.


"Never be alone"

Outra parte em que a dupla poderia ter apenas ter colocado a bateria eltrônica no piloto automático e deixado o público com o trabalho vocal (e realmente fez em vários momentos) foi no maior hit "D.A.N.C.E." (vídeo no início do texto). Mas talvez contar os pontos altos do show só pelos sucessos de MTV não faça sentido para as tais pessoas que dançavam de costas para o palco, com ouvidos em busca de boas batidas mais do que trechos reconhecíveis de música.

Durante toda a apresentação eles não trocam uma palavra com o público. Por trás do impressionante equipamento sonoro/decorativo, é Gaspard Augé, o bigodudo com cara de psicopata e camisa do Ted Nugent que mais parece se esforçar em estabelecer uma comunicação gestual, levantando os braços e fazendo o sinal de uma cruz (o primeiro e único disco da banda se chama Cross, ou †, ou o que quer que seja).

Em compensação, Gaspard parece pouco atarefado com os botões, o que lhe garante o título de Branco Mello da banda. Mas não é de maneira alguma um show frio. Minha impressão de o show do Justice é um dos filmes de terror mais fodas da atualidade fica comprovada por esse trecho aqui, com direito ao bom e velho som de cordas crescendo na intensidade e barulhos tipo de gritos desesperados no final.

Hoje (sábado, 27) o Justice toca no Skol Beats, em São Paulo, que provavelmente terá um público maior e mais exigente do que no Rio. Mas é bem mais fácil imaginar Xavier e Gaspard fumando um cigarro com a mesma cara de maus de sempre do que roendo as unhas de preocupação com isso.

» leia/escreva comentários (2)