7 doses de vingança por Daniel Oliveira
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“A vingança nunca é plena, mata a alma e envenenaâ€. Ok, Chaves, diga isso depois de seqüestrarem sua filha, invadirem seu casamento, darem um tiro na sua testa, chacinarem sua famÃlia, te mandarem pra prisão injustamente, roubarem sua identidade. Resumindo: destruÃrem sua vida.
O PÃlula odeia maldades com pessoas bacanas e inocentes. E por isso selecionou uma lista de sete filmes em que os sacaneados, à la James Bond em “Quantum of solace†, não deixam barato.
Os longas abaixo são para aqueles que acreditam que oferecer a outra face é coisa de quem não apanhou o bastante. Perdão é uma palavra fora do dicionário de nossos (anti-)heróis – e esquecer, então, nem se diga. Fria, quente, sangrenta, saborosa, a vingança se torna a raison d’etre de suas vidas e, quanto mais catártica, mais a gente gosta.
Porque, boa ou má, a vingança tem algo de extremamente atraente e adrenalinesco. E o cinema sabe disso há bastante tempo. Milhares de contos de vingança foram levados à s telas. E como injustiça é o princÃpio de tudo aqui, vários deles ficaram de fora de nossa lista. Ou porque a vingança em si demorava muito a tomar forma (Mad Max) ou porque não era beeem o cerne da história (o magnÃfico “Era uma vez no Oesteâ€, que me partiu o coração não estar na lista abaixo). Mesmo a clássica história de vingança, “O conde de Monte Cristoâ€, que já foi filmada trocentas vezes, não produziu um longa digno de nosso Top 7.
Enfim. Já falei demais. Moral da história é: cuidado com o que você faz com os outros. Porque já dizia um grande filósofo , “what goes around comes around†. E, às vezes, bem pior do que foi. Confira os exemplos abaixo.
Fúria
(Fury, EUA, 1936, dir. Fritz Lang)
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Fotos: Divulgação
A ira da vingança.
O vingador: Joe Wilson, massacrado injustamente
O algoz: A turba, indistinta e incontrolável
Vingança é: levar o grupo de linchadores a julgamento pela sua morte – só que você não está morto!
O filme: “Fúria†é o primeiro filme do alemão Fritz Lang (Metrópolis, M – o vampiro de Dusseldorf) nos EUA, após sua fuga da Alemanha nazista. E demonstra todo o seu medo e desprezo pelas massas irracionais na história de Joe Wilson (Spencer Tracy), sujeito comum confundido com um assassino. Ele e linchado, espancado e humilhado por um grupo de pessoas e, dado como morto, resolve desaparecer e maquinar o julgamento de seus algozes – por assassinato. “Fúria†é desencantado e mostra como uma sociedade injusta e violenta pode levar o mais honesto dos homens ao ódio e ao cinismo incrédulo e cruel. E isso tudo nos EUA de 1936! Depois desse petardo, Hollywood pensou bem se receber Lang de braços abertos era mesmo uma boa idéia.
Ben-hur
(1959, EUA, dir. William Wyler)
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Fotos: Divulgação
A grandiosidade da vingança.
O vingador: Ben-hur, o próprio
O algoz: Messala, mesquinho e invejoso
Vingança é: Dar a volta por cima (de saia e numa biga), provar-se inocente e massacrar o fdp que me sacaneou.
O filme: “Ben-hur†é um dos maiores clássicos de todos os tempos. Ponto. Ele tem tudo que um épico dos anos dourados de Hollywood requer: vários e grandiosos cenários, batalhas monumentais, momentos de emoção e redenção arrebatadores, lendas de filmagem, acidentes no set, brigas de atores, diretores e produtores. E ganhou 11 Oscar, feito só igualado por “Titanic†e “O senhor dos anéis: O retorno do rei†meio século depois. O que mais você quer?
Na Jerusalém do século I, Judah Ben-hur (o saudoso Charlton Heston) é um rico prÃncipe judeu, traÃdo por seu ‘amigo’ e adversário polÃtico Messala (Stephen Boyd). Quando uma pedra cai próximo ao governador romano no seu desfile de boas-vindas, Messala acusa o protagonista, manda sua mãe e irmã para a prisão e o torna um escravo. Mas Judah promete que as coisas não vão ficar assim, E depois de uma histórica corrida de bigas, nada mais foi o mesmo. Três horas e meia de pura emoção e volta por cima. Tá se perguntando por que “Gladiador†não está aqui? Porque “Ben-hur†fez tudo antes (e melhor).
Desejo de matar
(Death wish, EUA, 1974, dir. Michael Winner)
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Fotos: Divulgação
O Patrono da vingança.
O vingador: Paul Kersey, um ‘pacato’ arquiteto
O algoz: Os malacos das ruas da Nova Iorque dos anos 70
Vingança é: Matar, matar e matar todos os malacos que poluem as ruas, até a dor pela morte de minha esposa passar – mesmo que ela nunca passe.
O filme: Charles Bronson é o Patrono do gênero ‘filme de vingança’ (não por acaso, está nos agradecimentos de Tarantino em “Kill Billâ€). E provavelmente tal rótulo foi criado após o inesperado sucesso desse thriller-tornado-cult de 1974. No favorito do Domingo maior, Paul Kersey (Bronson) é um arquiteto cuja esposa é assassinada por um grupo de bandidos. Descrente na polÃcia e na justiça, ele passa a sair pelas ruas de madrugada fazendo justiça com as próprias mãos e eliminando a ‘sujeira social’.
Polêmico, violento e bastante sangrento, “Desejo de matar†gerou quatro seqüências (bem menos inspiradas) e vários derivados – estrelados por Steven Seagal, Van Damme, Schwarzenegger, Stallone e até Jodie Foster (Valente, de 2007)...É eles todos que Charles Bronson (que já havia se vingado em “Era uma vez no Oesteâ€) representa aqui.
Cabo do medo
(Cape fear, EUA, 1991, dir. Martin Scorsese)
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Fotos: Divulgação
As marcas da vingança.
O vingador: Max Cady, insano
O algoz: Sam Bowden, almofadinha
Vingança é: Aterrorizar e destruir a vida do advogado que me botou na cadeia.
O filme: “Cabo do medo†é um daqueles raros casos de remake melhor que o original. Nessa refilmagem do longa de 1962 com Gregory Peck, um tatuado e cabeludo Robert De Niro substitui Robert Mitchum como o sociopata Max Cady, que sai da prisão e parte atrás de vingança contra Sam Bowden, o advogado responsável por botá-lo lá. Bowden é vivido por Nick Nolte e a direção é de Mr. Martin Scorsese , em sua sexta parceria com De Niro. “Cabo do medo†ainda conta com Jessica Lange, como a esposa de Sam, e Juliette Lewis, como sua filha.
Lewis arrebatou uma indicação ao Oscar de coadjuvante pelo papel, junto com De Niro que conseguiu sua sexta. As indicações não são por acaso: a relação construÃda pelos dois é doentia e quase engraçada, dando certo respiro a um dos filme mais adrenalinescos (e convencionais) de Scorsese. Toda a seqüência no barco é desesperadora e o cineasta mostra sua competência ao decupar um espaço tão restrito com uma variedade enorme de planos sangrentos. Para todos os futuros (e atuais) estudantes de Direito pensarem bem antes do exame da Ordem.
Trilogia da vingança
(Boksuneun Naui geot, 2002; Oldboy, 2003; Chinjeolhan geumjassi, 2005; Coréia do Sul, dir. Chan-wook Park)
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Fotos: Divulgação
O olhar da vingança.
O vingador: Um monte de gente
O algoz: Um monte de gente
Vingança é: Fazer com alguém a coisa mais maldosa e cruel que você imaginar.
Os filmes: Os dois “um monte de gente†aà em cima não são preguiça minha. São uma constatação. Quase todos os personagens da premiada trilogia do coreano Chan-wook Park estão se vingando de alguém, mesmo que você não saiba. E quando você descobre, preferia ter ficado sem saber. Porque as histórias de Park são violentas, em todos os sentidos possÃveis , e exploram o lado mais profundo da maldade que existe dentro de nós. No primeiro, “Mr. Vingançaâ€, de 2002, um pai busca desforra contra o seqüestrador de sua filha – por sua vez, surdo, demitido pela empresa do tal pai e vÃtima de ladrões de órgãos. No segundo (e melhor), “Oldboy†, de 2003, um sujeito seqüestrado e preso por 15 anos em um apartamento é solto para descobrir e se vingar do responsável. E no último, “Lady Vingança†, de 2005, uma mulher sai da cadeia e usa todos os seus recursos para se vingar do autor do crime que a colocou lá.
Quando você pensa que sacou a vingança da história, Park puxa seu tapete – no melhor estilo “who’s zooming who?†. Seqüestros parecem ser uma fixação do diretor, principalmente quando dão errado, assim como cenas de extrema dor fÃsica e psicológica, que fazem o espectador sentir no estômago a miséria que leva os personagens a fazer as barbaridades que fazem. Não é fácil, é sangrento, violento e extremamente deprimente. Mas como é bom...
(vol. 1, 2003; vol. 2, 2004; EUA, dir. Quentin Tarantino)
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O vingador: A noiva
O algoz: Bill
Vingança é: Matar Bill – e todos que se interpuserem no caminho.
Os filmes: Melhor eu deixar a própria vingadora explicar:
“Parecia morta, não parecia? Bem, eu não estava. Mas não foi por falta de tentativa, isso eu posso te falar. Na verdade, a última bala do Bill me pôs em coma. Um coma em que eu fiquei por quatro anos. Quando acordei, eu parti no que as salas de cinema anunciaram como ‘um violento surto de vingança’. Eu surtei. Eu violentei. E eu consegui uma sangrenta satisfação. Eu matei uma porrada de gente pra chegar a esse ponto. Mas tenho só mais um. O último. Aquele para quem eu estou me dirigindo neste momento. O único que restou. E quando eu chegar no meu destino, eu vou matar o Bill.â€
O resto é história.
(Sweeney Todd: The demon barber of Fleet street, EUA/Reino Unido, 2007, dir. Tim Burton)
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A obscuridade da vingança.
O vingador: Sweeney Todd, o barbeiro demonÃaco da rua Fleet
O algoz: o torpe juiz Turpin
Vingança é: Degolar os destruidores da minha famÃlia. Cantando.
O filme: Benjamin Barker (Depp ) era um barbeiro londrino e feliz, quando o invejoso juiz Turpin (Rickman) resolve destruir tudo o que ele tem. Matar sua esposa, ficar com sua filha e extraditá-lo para a Austrália. Bobo dele se achou que as coisas iam ficar por isso mesmo.
Baseado no musical homônimo da Broadway, Tim Burton pinta em tintas gótico-expressionistas a volta de Barker a Londres, agora como Sweeney Todd. O objetivo? Degolar todos os responsáveis pela destruição de sua famÃlia. A ajuda? Da amável Sra. Lovett (Bonham-Carter), que dá vazão aos corpos em suas deliciosas tortas caseiras. E Sweeney Todd shall have his revenge . E não é qualquer vingança. É uma vingança cantada. E Johnny Depp e Helena Bonham-Carter cantam mal . Para torturar ainda mais suas vÃtimas. É muito cruel. E sangrento. E nojento. A sexta parceria de Burton e Depp é isso aÃ. Sexta parceria? De novo? Talvez 6 seja o número cabalÃstico para VINGANÇA.
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