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Enquanto o mundo gira, diga Xis

X Men - As HQs

por Rodrigo Campanella

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Sempre fui um fã meio leviano de X-Men. Durante muito tempo quando alguém me perguntava o que eu lia em quadrinhos, respondia que era o grupo mutante, sem titubear. Tempos depois minha resposta foi mudando para Wolverine: todo o mistério e as várias mentiras sobre o passado do baixinho bombado com adamantium começaram a me parecer bem mais interessantes. Pensando hoje, distante daquele momento, eu imagino se toda a confusão sobre a vida de Logan (o passado, o Japão, Dentes-de-Sabre, o esqueleto metálico... a lista é tremenda) não são, enfim, menos complicados do que tentar compreender a dinâmica do universo X, com Ciclope e companhia como pelotão de frente. Não foram poucas as vezes em que eu me perdi no meio das histórias do grupo do professor Xavier, e isso me deixava um pouco sem paciência.

Comecei a ler X-Men por acaso, depois de folhear por anos, sem muito compromisso, revistas da equipe. Estava de viagem quando passei por um sebo e comprei uma certa revista de capa preta e lombada quadrada - Grandes Heróis Marvel, se não me engano. Estampada logo na frente, a Fênix Negra. Era o final da saga.


As origens d'O confronto final passam por aqui

Li de uma sentada. E o que mais me marcou (e traz uma sensação estranha até hoje) era a historinha que vinha logo depois da principal: um what if... onde Jean Grey escondia que o poder da Fênix vivia dentro dela, enganando a todos enquanto continuava dizimando, por puro prazer, galáxias afastadas. Quando o segredo vinha à tona, começava um massacre sem fim em que uma das primeiras vítimas era Scott Summers, o próprio Ciclope, seu antigo amor e então namorado. No fim, todo o Universo era consumido aos poucos pela fúria da Fênix.

Pode até parecer bobo, mas até hoje é uma das histórias mais mórbidas que eu já li. Pulp baixo-astral de primeira.

A partir dali, começou o vício. Acompanhar tudo dos X-Men naquela época era complicado: as histórias se espalhavam por pelo menos duas revistas e mais uma porção de especiais, sem contar que Wolverine ganharia título próprio. Tudo publicado quando a editora Abril ainda ganhava um bom dinheiro com gibizinhos e gibizões. Eu tinha por volta dos meus onze anos. Sem grana, lia o que podia com a ajuda de jornaleiros amigos, que me deixavam usar a banca como biblioteca. A dificuldade em entender certas histórias vinha em parte da pouca idade.

Mas sempre foi claro para mim que X-Men não é Super-Homem (assim como Super-Homem não é Smallvile, mas isso é outra história). Acompanhar as reviravoltas do grupo mutante era bem mais complicado do que seguir as aventuras do homem-de-aço, em que raramente algum evento vinha alterar o cotidiano ou a história pessoal dele – na maior parte do tempo, o que rolava era socar bandidos, vilões e outros da mesma espécie.


Wolverine, bonzinho? Às vezes...

Em X-Men, os heróis e os bandidos (isso até hoje) muitas vezes se misturam, trocam de lado, aliam-se. Se a diversão com outros títulos podia ser apenas ver ‘mocinhos’ ganhando a luta, em X-Men a história era outra. Acompanhar a rotina da Mansão Xavier, o entra-e-sai dos membros do grupo e as guinadas na vida de cada um - até dos antagonistas - era tão importante, se não mais, quanto quem iria ser socado naquele mês.

Olhando esse quadro, X-Men pode parecer um novelão, algo entre o que a Globo põe no ar às 9 da noite e a vida rocambolesca de uma ‘série’, como a antiga ‘Dallas’. Mas não, não parece ser bem por aí. Longe do melô exagerado das soap operas americanas, ou da falta de um universo melhor trabalhado nas brasileiras, X-Men sempre construiu uma mitologia própria, que ajudava a compor bem os personagens e tinha implicações diretas nas guerras travadas. Cicatrizes de batalhas ganhavam vida nas tramas pessoais e escolhas individuais detonavam guerras futuras.

Tanto que, de quando em quando, era preciso zerar tudo: uma minissérie, um evento cataclísmico ou o recurso de uma linha de tempo paralela limavam boa parte da complexidade crescente da história e permitiam que novos leitores ingressassem na série. Afinal, os antigos estavam crescendo e era preciso sangue, olhos (e dólares) novos, pareciam pensar os editores.


Ciclope sofre com uma das freqüentes tragédias dos mutantes

De um lado podia haver os quadrinhos de Asterix, que lembravam uma cidadezinha do interior – quem vem de fora depois de muito tempo percebe que pouca coisa mudou, apesar de haver sempre uma história nova para explorar. X-men, com seus vários escritores e ilustradores, de graus ainda mais variados de competência, sempre manteve essa cara de metrópole, onde a situação tende a mudar bem mais rápido. Um ano fora e já não se entende muita coisa.

Mas mutantes ou gauleses, cada um tem seu lugar durante a nossa história. O lugar dos meus tempos de X-Men eu vou levar pela vida inteira.

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