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#7

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Quebradera ao olhar e ver todo o festival pela frente lá no #1, quebradera ao sair pelo corredorzinho escuro da última sessão da competitiva nacional e ver que, bem ou mal, pois é, chegamos aqui. Cansados um tanto, desanimados um pouco, satisfeitos outros quinhentos. As frases são vagas igual a sensação do cérebro que ainda não aceitou que a maratona chegou ao fim, restando apenas algumas sessões especiais a assistir ainda na sexta-feira.

É a velha história da ficha que não desce pelo buraco, mas dessa vez com um gosto seco de ‘eu esperava mais’. Esperava mesmo, esperava muito e a satisfação pela metade com muita coisa não substitui a dificuldade em apontar grandes momentos dentro de todos os nacionais selecionados. Pensando nos cinco melhores da mostra nacional eu conto apenas três, os outros sendo espaços a serem preenchidos.

Aqueles exibidos durante a última sessão entram no páreo em busca das duas vagas restantes, mas sem lá grandes chances e pouco impacto deixado na cabeça pós-exibição. Ainda que, no todo, tenha sido um dos melhores dias. Se ontem havia sido a glória dos clube fechado dos cinéfilos anônimos, permanentemente de portas fechadas à luz do dia, hoje funcionou como uma certa compensação.

Os dois copos de plástico branco permaneceram firmes no apoio ao projetor de legendas, que nas sessões nacionais só fala inglês nas letrinhas lá embaixo na tela. Hoje passaram por lá um Glauber Rocha falando através de carta, sem nenhuma afetação, uma simpática colecionadora de homens e um simpático psicopata urbano contemporâneo. “De Glauber para Jirgesâ€, “Manual para Atropelar Cachorro†e “Fraulein Gertie†valem acompanhar a exibição até o fim e sair satisfeito. Todos os três tem seu humor negro, mais contido em Glauber, e um desencanto que não parece algo mau.

Enquanto Glauber escorre a si e ao Brasil nas cartas, “Manual...†e a animação de massinha “Fraulein Gertie†fazem escorrer sangue, com o segundo disparado na frente. “Manual...†sopra Tarantino nos olhos e ouvidos de quem assiste e o nome do diretor, Rafael Primo, é algo para se guardar no bolso e procurar de novo daqui alguns anos.

Ao invés da ficção meia-boca que usualmente preenche sessões de curtas nacionais. O lado radical/trash/interessante da sessão veio por conta do divertido e irregular “Distúrbio†e de algumas imagens de filmes de José Agrippino de Paulo (muito poucas, pena!) inseridas no documentário “Passeios no Recanto Silvestreâ€. Foi um dia de cinema para todos, e talvez a melhor seleção para fechar um festival, indo da risada da sangueira ao humor negro dos mais finos.

A sensação depois desse último programa é que nós, os masculinos da história, é que estamos sem rumo daqui para adiante. O que fazer do cinema e do próprio sexo com XY é uma boa pulga que permanece atrás da orelha saindo da sala. Mas enquanto houver quem pergunte sempre haverá muita coisa a fazer – mesmo que não seja feita. Depois de uma mostra brasileira conturbada (em termos de filme) com alguns altos e vários grandes baixos, acaba-se assim: inquieto, insatisfeito, com um maço de perguntas. Algumas imagens permanecerão no peito, outras ficarão na cabeça e evaporarão ao longo dos dias.

A certeza chegando ao final é: bom ter dinheiro para fazer o universo do curta avançar, mas não dá para enxergar avanço sem invenção e nem invenção puramente cerebral, que faz questão de ignorar o público. Existem salas de cinema e galerias de arte e confundir as coisas acaba enfraquecendo as duas. O funcionamento a bom gosto do último programa foi a prova disso e a certeza de que existem muitos cinemas dentro da palavra no singular – cada qual falando do sei jeito e podendo (até!) se fazer entender.

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