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Os 10 momentos mais engraçados do debate d’O cheiro do Ralo

por Daniel Oliveira

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1- Sobre de onde vem o cheiro do ralo:

Marçal Aquino (roteirista): “Comprei O cheiro do ralo, em uma edição horrorosa, numa livraria de São Paulo. Liguei para o Heitor [Dhalia, diretor] em um sábado à noite, e disse que precisava apresentar o livro para ele, que era muito bom e tal. Marcamos de nos encontrar no domingo de manhã para almoçar.

Para você ter idéia do nível de ansiedade do Heitor, ele tinha saído na noite anterior, comprado o livro e lido. Duas vezes. Feito anotações com caneta colorida e riscado o que não precisava no filme. Escrever o roteiro foi de extrema facilidade. Os diálogos são implacáveis, era só transmitir para o papelâ€.

Lourenço Mutarelli (autor do livro): “Os diálogos fluem assim porque eu falo muito sozinho e venho do quadrinho, que é baseado no balão. Quanto ao livro, passei uma temporada de férias no inferno e fiz um mapa. Quando quiser, volto lá. Escrevi o livro em cinco dias. Sempre fui muito maltratado no comércio, não sei nada de comprar e vender, então é uma espécie de vingançaâ€.

2- Sobre para não dizer que não falei de flores:

Aquino: “Com o roteiro nas mãos, o Heitor ficou um ano captando conselhos. Imagina você ser do marketing de uma grande empresa e receber um roteiro chamado “O cheiro do ralo†e outro “Xuxa gêmeasâ€. Eu preferiria a Xuxa. Ela cheira melhor. O Heitor escutou o pedido para mudar o título umas 20 vezes, até cansar, juntar-se com os outros dois produtores, levantar 300 mil reais, e fazer o filme por conta própria.â€

Mutarelli: Eu sugeri um novo título.

Alguém: Qual?

Mutarelli: “O buquêâ€.

3- Sobre o país da piada pronta:

(Ainda) Aquino: “‘O cheiro do ralo’ ri da nossa humanidade. Não podia ser feito de forma séria. É um filme totalmente diferente na cinematografia brasileira. É uma comédia de humor negro. Não sei como ainda não tinham feito isso no país. O Brasil é puro humor negroâ€.


Marçal Aquino, roteirista de "O Cheiro do Ralo" e "O Invasor"

4- Sobre os avanços da medicina:

Francisco César Filho (mediador da mesa): “E nós estamos muito felizes por ter aqui o Lourenço Mutarelli, que sempre foi conhecido por ser um cara retraído. Agora, ele está até atuando.â€

Mutarelli: “É, a medicina evoluiu muito†(risos). “Sério, eu era estranho mesmo, mas tem esse remédio, Ritalina. Agora, eu sou uma pessoa sociável.â€

5- Mutarelli, sobre o universo das HQ’s:

“São essas pessoas com calça de couro, que se acham rock’n’roll, é muito chato, desgastante. Passei da idade disso.â€

César Filho: Mas quem são essas pessoas, os editores?

Mutarelli: Não, os autores mesmo.

6- Mutarelli, sobre trabalhar como ator:

“A primeira proposta veio de um grupo de estudantes curtametragistas. Era tão insólita que eu aceitei. Aí, no filme, o Heitor percebeu meu porte físico [o escritor é baixinho, careca e mirrado] e pediu que eu fizesse o segurançaâ€.

7- Sobre a Bunda:

Aquino: “Como você chama atrizes para a seleção de uma personagem que se chama Bunda? E olha que nós ainda conseguimos a Paula Braun, que é uma puta atriz (sic)â€, considera Aquino.

Mutarelli: “Quando me compraram os direitos do livro, achei a grana mais fácil que eu ia fazer na minha vida. Não quis participar do roteiro, do storyboard, nada. Minha única condição no contrato é que eu participasse da seleção da Bunda. Foi um dia sensacional, o tempo inteiro olhando bundas maravilhosas.â€


Lourenço Mutarelli, autor de "O Cheiro do Ralo"

8- Mutarelli, sobre a produção de um filme com 300 mil reais do próprio bolso:

“A Guta Carvalho fez um trabalho maravilhoso com a direção de arte, totalmente sem recursos. Ela optou por trabalhar só com tons de merda. Verdes, beges e marrons. Levou uma paleta de merda na minha casa. Achei lindo.â€

(...)

Público: E de onde o protagonista tira tanto dinheiro para comprar aquele monte de coisa?

Mutarelli: O Heitor criou essa teoria durante a filmagem de que ele tinha recebido uma herança. De que aquele galpão era uma grande fábrica que o pai dele tinha. Mas isso nem é falado no filme. Era só uma justificativa para o diretor e a equipe mesmo.

9- Mutarelli, sobre o peso e a consciência:

“A Silvinha [Lourenço, de Contra todos, que faz uma viciada no filme] fez um trabalho maravilhoso. Não se fala uma única vez no longa que ela é drogada, e mesmo assim todo mundo sabe. Quando eu cheguei para a gravação, vi que ela tinha emagrecido 10 kg. E eles fizeram aquela cena [em que ela tira a roupa] que eu escrevi no livro, e eu pensei ‘esse povo é doente’. Eu me senti um pouco culpado. Infelizmente, são essas coisas que passam o dia inteiro pela minha cabeça. Não tenho problema com página em branco, pelo contrário.â€

10- Sobre esquizofrenizar:

Público: A trilha tem um lance meio esquizofrênico, é leve e toca em uns momentos pesados do filme, meio que quebra...

Aquino: Nada melhor que uma boa esquizofrenia. Quando o Heitor começou “O cheiro do raloâ€, disse que faria um filme mais acessível que “Ninaâ€. Achei difícil. Mas ele conseguiu, com essa trilha meio surf music, meio vaudeville, que amacia de forma precisa. Com o Selton Mello, que está acostumado com o protagonista bonzinho, e encarou o desafio de fazer bem o mau. E o sinal de que deu certo é que até a Columbia [distribuidora do longa] gostou d’O cheiro do ralo. Preferimos manejar o texto de forma a amplificá-lo e fazer uma obra que chegue às pessoas. Mas é claro que se podia fazer o filme como uma obra polonesa dos anos 60 para passar em um cinema pulguento.




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