O inferno são os outros
14.08.09
por Renné França
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Arraste-me para o inferno
(Drag me to hell, EUA, 2009)
Dir.: Sam Raimi
Elenco: Alison Lohman, Lorna Raver, Justin Long, Adriana Barraza, Dileep Rao, David Paymer, Reggie Lee
Princípio Ativo: o mal (semi) morto
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A logo da Universal que abre “Arraste-me para o Inferno†já é a dica para o que vem a seguir: um terror à moda antiga, com história divertida e estilão de filme B. Traduzindo: Sam Raimi volta às origens e não decepciona na mistura de suspense, nojeiras e um humor macabramente sacana.
O filme usa um pouco de tudo que se associa à macumba ao sobrenatural: maldições, gatos, moscas, sessões espÃritas, exorcismos e, claro, a garota assustada e seu namorado cético. Tudo misturado com tanto estilo que até parece novo, resultando em uma diversão que prende a atenção enquanto rende bons sustos.
Na história, Christine (Lohman) trabalha em um banco e, em busca de uma promoção, nega financiamento para a estranha Sra. Ganush (Raver), que perde a casa e lança na jovem uma maldição. A partir daÃ, a garota tem três dias para lutar contra o demônio que a assombra antes que seja, literalmente, arrastada para o inferno. Enredo simples (e com furos) que Raimi conduz com habilidade através de seus conhecidos movimentos de câmera rápidos e cortes ágeis.
O humor, também comum em sua obra, aparece aqui bem mais dark, fazendo graça desde situações dramáticas (pobre gatinho) até outras que beiram o pastelão (o almoço em famÃlia). Mas o tipão de produto B contamina mais que o necessário, com erros de continuidade gritantes (que chegam a gerar dúvida se não são propositais). Além disso, há uma clara generalização do mal que vem de fora: o rival no emprego de Christine tem feições asiáticas, o vidente parece indiano, a Sra Ganush é cigana e os médiuns falam em espanhol.
O horror estrangeiro só não parece ganhar do econômico. É a ganância e a negação de um empréstimo que geram todos os problemas da protagonista. Situar o estopim de sua trama dentro de um banco é o recado de Raimi em uma época de crise, jogando para a plateia o dilema moral do cada um por si, o que dá motivos para criticarmos Christine ao mesmo tempo em que também nos preocupamos com ela. E Lohman está muito bem como a vÃtima loira da vez, emulando as mocinhas de Hitchcock e surgindo belamente assustada, como na ótima sequência do cemitério.
Mas, se a proposta era um filme à moda antiga, o diretor peca ao confiar demais nos efeitos digitais, que fogem ao clima muito bem construÃdo e se revelam desnecessários. O uso do som estourado à la terror asiático também é um modernismo que serve mais para distrair adolescentes do que para a trama em si. Problemas menores em um ótimo conto de horror que, como nas boas histórias, diz muito da realidade em que vivemos.
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