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Alguém tem que fazer

27.02.10

por Mariana Souto

Simplesmente complicado

(It’s complicated, EUA, 2009)

Dir.: Nancy Meyers
Elenco: Meryl Streep, Alec Baldwin, Steve Martin, John Krasinski, Lake Bell, Mary Kay Place, Rita Wilson, Alexandra Wentworth, Hunter Parrish

Princípio Ativo:
intimidade & identificação

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Em 2003, “Alguém tem que ceder†fez sucesso ao optar por rostos talentosos e conhecidos, em vez dos previsíveis jovens e bonitos (não que sejam coisas excludentes), além de um bom texto. “Simplesmente Complicado†faz o mesmo: aposta forte no carisma do triângulo amoroso composto por Meryl Streep, Alec Baldwin e Steve Martin e num roteiro amarradinho. Aproveita para abordar essa fase da vida, faz piadas com a exposição das rugas e do corpo flácido, com os divórcios e a partida dos filhos.

Com eles, Nancy Meyers parece fazer escola na exploração de uma fatia do mercado tanto pouco atendida como pouco representada pelo cinema hollywoodiano: os cinquentões e sessentões. E tem estabelecido um novo gênero – algo como 'comédia romântica madura' – que gera aquela pergunta “por que ninguém pensou nisso antes?â€. A questão remete à ditadura americana da beleza e da juventude (rápida renovação de atores jovens e bonitos com outros mais jovens e mais bonitos e consequente relegação dos “velhos†a papéis coadjuvantes ou ao ostracismo). Mas talvez se deva mesmo ao fato de ninguém ter atentado para o potencial comercial desses filmes diante de um endinheirado público-alvo.

Há ali o retrato de um círculo social bem específico, um mundo de estabilidade típico de quem já juntou uma boa poupança ao longo da vida. Referências a Paris, Toscana, pilates, yoga, alta gastronomia, carros chiques e empregos importantes dão um tom de sofisticação ao filme, não muito distante do universo do Leblon das novelas do Manoel Carlos.

Mas, em “Simplesmente complicadoâ€, paira uma leveza atípica nas nossas telenovelas. Risadas incessantes com leve jogada de cabeça para trás povoam quase todas as cenas. A perfeição dos filhos lindos, loiros e bem comportados de Jane (Streep) já diz muito. Tudo é tratado com serenidade e alegria. Ainda que aborde alguns temas difíceis, difícil mesmo é acreditar que algo ali dói de verdade.

Sentimentos profundos podem não ser transmitidos, mas o filme de Meyers é muito hábil em comunicar intimidade. Tanto o texto como os atores (sobretudo os ex-casados Streep e Baldwin, este excelente) exalam proximidade, aquela sintonia de quem se conhece bem e tem anos de convivência. A sensação é mesmo a do conforto do conhecido e de uma boa dinâmica.

Bons sorrisos e risadas também vão brotar em quem assiste. O filme de Nancy Meyers diverte e é competente em criar empatia com a plateia. Questões de relações, idade, amores, enfim, de cotidiano, estão ali de uma forma gostosa e descontraída que desperta identificação no público, seja ou não da faixa etária dos atores.

Mais pílulas:
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Streep & Baldwin, numa conversa descontraída antes de vestirem suas roupas de milhões de dólares e saírem pro Oscar.

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