Diversão de gente grande
04.01.05
por Rodrigo Campanella
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Closer é um filme adulto para um público também adulto e isso já é o bastante para fazer dele um produto interessante na fachada dos cinemas. Adulto não por comportar um bocado de palavrões a mais que o permitido, nem por um clima arrastado ao contar suas estórias de (des-)amor. Adulto porque sustenta sua estória dura e sincera sem a pretensão habitual de apontar culpados ou vencedores e apresentar um alÃvio final.
O que se vê aqui é um estudo de gente para gente grande. IncluÃdos aà os próprios cortes de espaço e tempo que rasgam a tela de uma cena para outra, sem apelar para legendas, porque contam com um texto bem amarrado. Esse modo direto de narrar a estória, sem recorrer cada segundo a explicações laterais, pode ser uma experiência inovadora para os adolescentes. AtraÃdos possivelmente pelos bonitões (Roberts e Law), além do comentado strip de Portman, talvez os fãs de blockbuster encontrem mais palavrões e interesse do que esperavam
Na trama, dois casais. Alice (Portman) é uma garçonete, ex-stripper, casada com Dan (Law), aspirante a escritor. Anna (Roberts) é fotógrafa, casada com Larry, médico. Como na quadrilha de Drummond, Anna é amante de Dan, que ama tanto ela quanto Alice, que é a presa que Larry ambiciona para se vingar dos dois. Nos tantos jogos entre esses amores é que surge o filme.
O grande porém é o modo com que Nichols filma a história. Enquadramentos fixos, textos e marcações de cena pesados dão um ar tanto quanto teatral, resvalando na impressão de teatro filmado com locações. Os que não se incomodarem com o fato podem acabar encontrando uma afinação rara de forma/conteúdo com os amores cÃnicos que passam na tela: emoções tão embargadas que já secaram todas as lágrimas. Dor aliviada com uma vida feita de papéis e interpretações. Dificilmente haverá lágrimas no fim da sessão, mas mais difÃcil será alguém não abalado.
Grande parte da qualidade vem do empenho e da entrega dos atores, principalmente Clive Owen e Portman. Nichols é um grande diretor de atores e é impossÃvel imaginar Alice e Larry interpretados por alguém mais.
Sucesso de bilheteria no Brasil, o filme parece ter se apoiado no carisma de Roberts e numa providencial campanha de TV na semana do lançamento. O boca-a-boca deu conta do resto, conquistando público acima do esperado para uma produção do tipo. Boa jogada da distribuidora para um bom filme, que é tanto maior quanto o buraco desse tipo de produto nos cinemas é grande. E o buraco é enorme.
A luz dissolve os homens
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