Busca

»»

Cadastro



»» enviar

Raízes do Brasil

31.08.05

por Daniel Oliveira

2 filhos de Francisco

(Brasil, 2005)

Dir.: Breno Silveira
Elenco: Ângelo Antônio, Dira Paes, Dablio Moreira, Marcio Kieling, José Dumont, Paloma Duarte, Lima Duarte, Marcos Henrique

Princípio Ativo:
Um sonho de verdade

receite essa matéria para um amigo

Em certos momentos de “2 filhos de Franciscoâ€, senti um frio na espinha. Por mais que, hoje em dia, eu seja um urbanóide na correria de um mundinho “modernoâ€, embalado pelos Strokes da vida. Músicas como “Tristeza do Jeca†e o forró poierão, típico de interior, eram extremamente reconhecíveis para mim, criado em uma cidade, de nome auto-explicativo: Formiga. Algumas falas do personagem de Ângelo Antônio, inclusive, soavam como lembranças de infância do meu pai.

“2 filhos de Francisco†é assim: sincero, inocente, quase ingênuo. Talvez, ao contrário do que deseja o diretor Breno Silveira, muitos dos que torcem o nariz à música sertaneja, não engulam a quase ausência de cinismo do longa. Não há propostas revolucionárias de narrativa, nem efeitos videoclípticos de edição (apesar do histórico de Breno). Há uma história simples e comovente. Uma das que acontecem diariamente Brasil adentro, com o diferencial de que essa gerou um dos maiores sucessos fonográficos dos anos 90 – os amados e odiados Zezé di Camargo & Luciano.

Mas a história não é deles. É sim do Francisco do título. Vivido por Ângelo Antônio, ele é casado com Helena (Dira Paes, de Meu tio matou um cara), na cidade de Pirenópolis, interior de Goiás. Encantado com o rádio, seu maior passatempo (além de fazer filhos), ele decide incentivar os rebentos Mirosmar (Dablio Moreira) e Emival (Marcos Henrique) a se tornarem uma dupla caipira.

Incentivar, para Francisco, no entanto, não é algo simples. A alma do filme é o sonho quase obsessivo dele, considerado louco pela pequena cidade, e o que ele faz para realizá-lo: desde trocar uma safra inteira por um acordeão e um violão, até acordar os filhos às cinco da manhã, obrigá-los a engolir um ovo cru e cantar todos os dias, como o galo. É um arco dramático clássico - um sujeito com um objetivo e os obstáculos que ele transpõe para atingi-lo – sob a direção firme e sensível de Breno Silveira.

É fato que o recém-cineasta apóia o longa na boa atuação de seu elenco. Além de Ângelo, Dira Paes está ótima como a forte Helena, que precisa ter o pé no chão para equilibrar a fantasia de Francisco. A cena em que ela abafa o choro, na partida para Goiânia, é sublime. Dablio Moreira, que poderia estar em um filme iraniano, é outro achado – não só no timbre parecido com Zezé, mas no olhar expressivo, não encontrado em Marcio Kieling, na segunda fase do filme. Este último, não impressiona, mas é tão parecido com o cantor, que é impossível você imaginar outro ator no papel.

“2 filhos†segue a história do sertanejo no Brasil. A primeira fase, com a interação da família, diálogos precisos e atuações afinadas, embalada pelo caipira legítimo nas vozes de medalhões da MPB, é claramente superior a segunda, em que o romântico brega invade o gênero e o elenco cai de produção. Breno percebe o desequilíbrio e reserva um tempo bem menor para a metade final, que termina com o sucesso de “É o amorâ€. Ainda bem, porque o que vem depois disso, todo mundo já cansou de ver todo domingo à tarde na TV.

“Perereca: com certeza um filho bastardo de Zezé di Camargoâ€

» leia/escreva comentários (6)