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Sem resumos

22.11.05

por Rodrigo Campanella

Alila

(Israel/França - 2003)

Dir.: Amos Gitai
Elenco: Yael Abecassis, Uri Klauzner, Amos Lavi, Hana Laszlo, Yosef Carmon

Princípio Ativo:
janelas trincadas

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Na sinopse na caixinha de Nascido para Matar, uma explicação/recomendação descreve o filme como ‘ação vertiginosa do início ao fim’, ou um clichê de propaganda de Tela Quente de calibre equivalente. A regra parece dizer que quanto mais e melhores idéias, menos adjetivos oba-oba de sinopse são capazes de dar alguma indicação minimamente fiel do que será assistido.

Ao assistir Alila, ler a sinopse ‘oficial’ depois de ver o filme pode ter dois efeitos. O primeiro é o descrédito: o que é contado na sinopse não tem efetivamente nada a ver com o que se passa na tela. A tentativa de criar uma narrativa única com o caleidoscópio de histórias que se passam num prédio decrépito de Israel fica engraçada, tamanha a forçação de barra. De outro lado, ao ler o gênero do filme vem novo espanto: Comédia? Onde?

Esse escape à síndrome do gênero é negativo apenas para a já combalida credibilidade das sinopses. Alila alterna sufocamento e exagero com folga suficiente para ambos os lados, ainda que a balança pese mais forte para o drama. A metáfora da balança cai bem: cada cena é armada com uma leveza que cairia bem num texto irônico (coisa que não aparece). Ao mesmo tempo, o vício de Gitai em planos-sequência acaba fazendo um filme que verga com o próprio peso. Jogando tudo na balança, a impressão fatal é a de um autor distanciado e frio diante do painel que traça. Mas não, nada é tão simples quanto uma sinopse.

Falando em sinopse, é preciso tentar alguma, talvez: prédio caindo aos pedaços, vizinhança em pé de guerra. A nova moradora quer construir um legítimo puxadinho, o encarregado da obra contrata imigrantes ilegais chineses enquanto seu filho deserta do exército e, no apartamento ao lado, um homem cria seu rendez-vous para uma escandalosa amante.

Resumos desse tipo ficam longe do que é Alila. A opção pelo plano-sequencia aqui parece ser essencialmente voyeurista, coisa de significado especial nos retratos do cotidiano que Gitai faz e na própria feitura do cinema. Estamos quase todo o tempo diante de uma janela, e ela se move. Para além disso, o que salta aos olhos é a vida num verdadeiro campo de guerra. Gitai se distancia da guerra imediata na tela para falar dos ecos das bombas numa sociedade que parece ter perdido seus laços essenciais. Depois de ver essa Israel povoada por várias raças, cheia de medos e conflitos interiores, é difícil continuar com a velha imagem que o cinema de guerra e a televisão fazem do país, supostamente uma bad gang unida em torno do tema único da expulsão árabe. Aqui, a sinopse dos noticiários de televisão vai ao chão. Aliás, Alila significa surpresa. Realmente.

...não faça guerra.

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