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O dia em que Steve Martin não foi para a França

18.02.06

por Rodrigo Campanella

A Pantera Cor de Rosa

(The Pink Panther – EUA/2005)

Dir.: Shawn Levy
Elenco: Steve Martin, Jean Reno, Kevin Kline, Beyoncé Knowles

Princípio Ativo:
créditos de abertura e hamburguers

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Ter ido a um lugar não é o mesmo que ter estado lá. A diferença vai além do jogo de palavras. Passar por um local é a coisa típica de qualquer viagem turística. Se deixar contaminar por um lugar é algo muito diferente. Steve Martin é o turista americano da vez em sua visita à França e aos personagens de Peter Sellers e Blake Edwards da série A Pantera Cor-de-Rosa.

Martin parece ter depurado seu instinto como comediante segundo aquilo que agrada ao famigerado ‘americano médio’, gosto medido em dólares na bilheteria. Por isso mesmo, seus últimos filmes, especialmente esse “A Pantera...â€, possivelmente serão material privilegiado para assustar antropólogos interessados em conhecer hábitos culturais dos EUA daqui a algumas, quem sabe, centenas de anos.

É preciso falar tanto de Steve Martin porque o filme é uma desculpa para o ator encenar gags. Aí começam os problemas. No novo longa, o inspetor Clouseau (Martin) não é apenas um ingênuo – ele é apresentado como ‘o grande sábio’ na arte de ser idiota. A adulação do filme em torno do personagem principal, soa mal já de cara. Num filme que aposta no humor físico, como rir de um personagem que cai apenas para mostrar como é genial ao se levantar?

Na trama, o diamante Pantera Cor-de-Rosa é roubado no momento em que o técnico da seleção francesa é assassinado em frente a um estádio lotado. O incompetente inspetor Clouseau é colocado na investigação pelo comissário Dreyfuss (Kline), que pretende solucionar o caso ele próprio e ficar com todos os méritos.

Ver o filme numa sala cheia (não houve sessão de imprensa) foi algo estranho. Qualquer piadinha-clichê cujo fim já era conhecido antes do início era motivo de soltas gargalhadas pelo público. Ficou forte a impressão de que quem paga para ver uma comédia, vai rir de qualquer coisa para valer o (caro) ingresso.

Com a sutileza de um terremoto 8.0 richter, “A Pantera...†consegue suas poucas vitórias na base da porrada. De tanto socar piadas no público algumas nem tão engraçadas funcionam (Clive Owen como 006, o globo rolando) junto de outras realmente engraçadas (o hambúrguer, o ‘policial bom, policial mau’).

Junto disso, sobram as piadas batidas (o ciclista e o carro, a cama de hospital, o ‘sexo com a secretária’) e Beyoncé Knowles disputando com Kevin Kline o troféu ‘melhor pseudo-interpretação para clipe de três minutos’.

Se Steve Martin um dia escrever uma comédia francesa, vai ser bom descobrir se ‘a culpa era do público’ ou se o óleo de Hollywood fritou um comediante que podia ser bom.

Até Clouseau fica paralisado diante da fina interpretação de Beyoncé

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