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Leia com sotaque pernambucano

28.03.06

por Marcela Gonzáles

A Máquina

(Brasil, 2006)

Dir.: João Falcão
Elenco: Paulo Autran, Mariana Ximenes, Gustavo Falcão, Lázaro Ramos, Wagner Moura, Wladimir Brichta, Aramis Trindade

Princípio Ativo:
Amor, tempo e Pepsi Twist Light

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“O amor é o combustívelâ€. A começar pelo ótimo slogan, o espectador já se sente atraído para assistir “A Máquinaâ€. O filme de João Falcão tem alma e é redondinho como o mundo que Antonio de Dona Nazaré (Gustavo Falcão, em atuação brilhante) quer dar para Karina da Rua de Baixo (Mariana Ximenes).

João assina o roteiro em parceria com a esposa, Adriana Falcão, autora do livro homônimo - a história de um pernambucano da cidade de Nordestina, apaixonado por uma moça que sonha em ser atriz e ganhar o mundo. Antonio decide, então, dar o mundo de presente pra Karina, tamanho o amor que sente por ela. Todos na cidade pensam que é um desatino do rapaz, que resolve provar que cumprirá o prometido, chamando atenção da mídia internacional como suposto inventor da máquina do tempo.

Quase todo filmado em estúdio, “A Máquina†trabalha muito bem o jogo de luzes para modificar o tempo, bem como no teatro. Num mesmo plano, o tempo muda do dia para a noite. Os diálogos chamam atenção pela originalidade e dinamismo, fazendo rir principalmente por causa do sotaque. Tente você, mineiro, carioca ou paulista, falar “Pepsi Twist Light†com sotaque pernambucano e, após assistir ao filme, descubra do que eu estou falando. A película é praticamente um dicionário de “nordestinêsâ€, cheio de expressões e palavras que só se escuta pelas bandas de Pernambuco.

A crítica social encontra lugar na obra, pois quase todos os habitantes de Nordestina têm o desejo de sair de lá e tentar uma vida melhor no Sudeste, coisa muito comum na vida real. Inclusive, uma casa do filme possui uma placa, indicando que ali se ensina a “falar cariocaâ€.

A trilha sonora, muito boa, é assinada pelo DJ Dolores, além de trazer uma banda chamada The Sconhecidos, que fez uma versão linda de “Dia Brancoâ€, de Geraldo Azevedo, especialmente para o filme. Vale destacar a atuação de Paulo Autran, como o Antonio do futuro, cativante e sem comentários, justamente por ser Paulo Autran.

“A Máquina†começa e termina muito bem amarrado, com atuações ótimas, cenários que realmente refletem o interior do Nordeste (mesmo feitos em estúdio) e fotografia impecável. O filme lembra outros do núcleo Guel Arraes, mas traz um diferencial: o lirismo e crítica social são muito mais abordados do que a comédia, dando mais seriedade à história. Valores como sucesso efêmero e sensacionalismo na TV são mostrados, além de um amor capaz de vencer a barreira do tempo, por mais piegas que isso possa parecer. É filme de rir, de se emocionar, de agregar valores e fincar raízes. Filme de ensinar o Brasil a falar pernambucano.

“Oxe Antonio, eu também falo Pepsi Twist Light bonitinhoâ€

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