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“A vida é um relógio de parede colado na mesaâ€

19.08.06

por Daniel Oliveira

A casa do lago

(The lake house, EUA, 2006)

Dir.: Alejandro Agresti
Elenco: Sandra Bullock, Keanu Reeves, Christopher Plummer, Shoheh Aghdashloo, Dylan Walsh

Princípio Ativo:
distâncias espaço-temporais

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Hello stranger!

Escrevo do futuro. Mais precisamente, do futuro em que eu já vi “A casa do lago†e você, muito provavelmente, ainda não. Se ainda não sabe, ele é a história de uma médica, Kate (Sandra Bullock), e um arquiteto, Alex (Keanu Reeves). Apesar de separados no tempo por dois anos, eles começam a trocar cartas através da caixa de correio da casa do título, em que os dois moraram.

E o melhor que posso contar é que esse futuro (ou esse filme) não tenta explicar como isso é possível. Aí está seu grande trunfo e, se você não concorda de forma alguma com a premissa, nem passe perto do cinema. Assim como o apagamento de memória era um recurso para falar da construção de um relacionamento, o acidente temporal de “A casa do lago†é uma metáfora para os obstáculos que impedem uma relação. Quem nunca amou alguém, mas não deu certo porque “estavam em tempos diferentes�

Adaptado do longa coreano “Siworaeâ€, “A casa do lago†é sobre o isolamento entre as pessoas. Kate é reservada e tende a afastar os (poucos) amigos. E Alex tem uma relação difícil com o pai (Christopher Plummer, ótimo), que o fez fugir do mundo por um tempo. Encontrando-se pouquíssimas vezes no filme, os dois constroem uma proximidade cúmplice. A casa, construída pelo pai de Alex, é uma metáfora da relação do casal. Feita de vidro, ela é cercada por todos os lados de belezas naturais, que não podem ser tocadas – já que foi levantada no meio do lago.

Mesmo na cena em que eles se sentam lado a lado no aniversário dela, o enquadramento do diretor argentino Alejandro Agresti (Valentin) parece separá-los com uma linha. E, graças a Deus, Alex não dá o golpe do “eu sou o homem que você vai conhecer no futuro, através de cartasâ€. Se ele tentasse, seria ridículo; se ela acreditasse, seria absurdo.

Ainda assim, há algumas falhas típicas. A seqüência em que Alex planta a árvore para Kate é piegas ao extremo, e um pouco nonsense – mas não deixa de ser bonita. Reeves e Bullock, infelizmente, não são Carrey e Winslet – e deixam a desejar em alguns momentos. E Henry, irmão de Alex, é o famoso “amigo do roteiristaâ€. Sem profundidade nenhuma, o personagem está ali só para a história poder seguir em frente.

Acima de tudo, “A casa do lago†não quer ser engraçadinho: é um romance, não um comédia romântica. Hoje, isso é algo de se admirar. E mesmo que você descubra antes a resolução final, o roteiro bem amarrado prova que ela é possível. Kate e Alex são dois ponteiros de um relógio, que não podem trapacear para se encontrar. Eles têm que esperar para que isso aconteça naturalmente. Não é assim que o amor é?

Tá vendo essa distância entre os dois? Ela é de mais ou menos uns dois anos.

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