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As figurinhas fáceis de Duk

25.08.06

por Rodrigo Campanella

O Arco

(Hwal/The Bow, Coréia do Sul/Japão, 2005)

Dir.: Kim Ki-Duk
Elenco: Han Yeo-reum, Seong-hwang Jeon, Si-jeok Seo

Princípio Ativo:
meditando com iPod

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Assistir um filme de Kim Ki-Duk sempre me traz a sensação de sabedoria milenar impressa em figurinha de chiclete. Você se diverte entrando no simbolismo do diretor e coleciona a série toda (apesar das figurinhas serem meia-boca) ou só masca a goma até o açúcar acabar. Mas o melhor é que os símbolos de Ki-Duk são auto-explicativos do filme:

Um herói mínimo com cara de pasmo – se você tiver se divertido no fim do filme mas sentiu que o diretor não sabia muito bem o que estava fazendo, não foi o único. Como no longa anterior, Casa Vazia, Ki-Duk não sabe direito qual tom dar para a história. A tentativa é clara: um filme poético e intimista na velocidade do pop – templo budista, só que feito de torrões de açúcar. O resultado é patente na cara daquele herói abobado que nunca chega direito a ser mais personagem que acessório da cenografia enquanto a história, bem maior do que ele daria conta de lidar, passa diante de sua vista.

Um espírito mais vivo quando já foi embora – Com dificuldade para criar a poética power pop, o filme é melhor quando a direção solta as rédeas da pretensão e deixa a história seguir: quando não tenta abordar o imprevisto da vida de modo exato e sistemático. Isso funciona especialmente porque o trabalho de escrita e produção antes da filmagem parecem ter sido bem cuidadosos, rendendo tanto o ótimo cenário que é aquele barco quanto a escolha de uma atriz tão bem-talhada para o papel principal (Han Yeo-reum).

A história rende também um sensacional ménage-a-trois, onde ao mesmo tempo a tal moça se rende ao amor e ao compromisso, cumprindo um nos braços e outro dentro da carne. Metáfora sensacional para pensar a cultura num Oriente em tempos de transição, e a explicação-chave dos últimos filmes de Duk: antes de abraçar o novo, é preciso pagar tributo ao ancestral, nem que seja com um pedaço do próprio corpo.

Um arco que é arma e música – Quando Ki-Duk acerta a mão ao ser moderno, faz um cinema de bons barulhinhos, alguns grandes planos e uma quietude nervosa. Daí a possibilidade de sair do filme com a sensação de banho nos sentidos, com o ouvido, olfato e visão trabalhando diferente. Daí a minha insistência em ver o diretor como promessa, mesmo no 12º filme dele. Porque quando ele resolve fazer um cinema meditativo na mesa de montagem da MTV, ou usar uma melodia adocicada para emular a música do arco, sai de baixo. No final, você nunca ouve o som do arco, que mesmo tosco seria sincero. É o risco de não acreditar na poesia ao tentar ser pop demais.

É, passou perto. Mais uma vez...

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