O sexo (o dinheiro) e as amigas
14.02.07
por Mariana Souto
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Amigas com dinheiro
(Friends with money, EUA, 2006)
Dir.: Nicole Holofcener
Elenco: Jennifer Aniston, Frances McDormand, Catherine Keener, Joan Cusack, Jason Isaacs, Simon McBurney
Princípio Ativo: a vida alheia, que não é a minha.
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“Amigas com Dinheiro†engana. O cartaz com as quatro amigas – Jennifer Aniston, Frances McDormand, Catherine Keener e Joan Cusack – felizes e sorridentes vende o filme como tÃpica comédia romântica americana quando, na verdade, está mais para comédia dramática inglesa, com pitadas de humor sarcástico.
Das quatro, três têm de ótima a excelente situação financeira e apenas uma, Olivia (Aniston), passa por dificuldades - que também se estendem no campo afetivo. Ela trabalha como faxineira, enquanto Jane (McDormand) é uma famosa estilista, Christine (Keener) roteirista e Franny (Cusack), a mais rica, sequer trabalha. Olivia se envolve em relacionamentos destrutivos e é subserviente até nas fantasias sexuais do parceiro. O filme se desenvolve através de uns falando sobre os outros nos momentos de privacidade, mas sobretudo quando falar sobre si está difÃcil - é do tipo em que nada realmente acontece; só se vive.
Apesar da menção no tÃtulo, o dinheiro não é a única causa de conflitos - as ricas também se mostram infelizes. Christine e o marido revelam suas próprias emoções nos roteiros que escrevem e assim mostram sua insatisfação. Ela vive se machucando e topando nos móveis, no que parecer ser uma busca pela atenção do seu par insensÃvel. Jane desistiu de lavar o cabelo num abandono da vaidade, já que não há nada mais que possa esperar de sua vida. Tudo já aconteceu e não há mais porque ter expectativas para o futuro. Já Franny, a milionária, é feliz mesmo. Sua única preocupação parece ser a perdida amiga Olivia e os eventos beneficentes a que tem que ir – criticados acidamente pelo roteiro.
Os personagens de “Amigas com Dinheiro†estão sempre em busca de si mesmos. OlÃvia procura seu caminho e se acha em uma pessoa muito parecida com ela mesma. O incompreendido Aaron, marido de Jane, que todos pensam ser gay, encontra a si próprio em um outro Aaron que passa por situações semelhantes.
A roteirista e diretora Nicole Holofcener tem experiência em séries como “Sex and the City†e “Gilmore Girlsâ€, mas usa de alguns artifÃcios - como a câmera na mão e a fuga da narrativa clássica - e consegue se distanciar do formato televisivo. Joga inclusive com a expectativa pelo humor da TV, na presença da Rachel (Aniston na série “Friendsâ€) e o trocadilho do tÃtulo, frustrando-a. E para os espectadores desavisados, ainda oferece uma dica na boca de Aaron e Aaron, quando saem de um passeio ao cinema. “Não é pra entender. É pra ser confuso mesmoâ€.
A beleza da primeira, o talento da segunda e o humor da terceira quase formam uma Meryl Streep.
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