We don’t have no control. We’re under control.
12.06.07
por Daniel Oliveira
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Não por acaso
(Brasil, 2007)
Dir.: Philippe Barcinski
Elenco: Leonardo Medeiros, Rodrigo Santoro, LetÃcia Sabatella, Rita Batata, Branca Messina, Cássia Kiss, Graziella Moretto
Princípio Ativo: controle
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A única coisa (ou pessoa) que se pode controlar, e ainda assim não é lá muito fácil, é você mesmo. A matéria da vida é o inesperado: sustos saudáveis, curvas acentuadas, acidentes de percurso.
“Qual o objetivo de planejar as tacadas se você não sabe o que o outro jogador vai fazer?â€, Teresa em “Não por acasoâ€
É um desses desastres-miniatura que transforma o cotidiano dos control freaks Ênio (Medeiros) e Pedro (Santoro), protagonistas de “Não por acasoâ€. Um acidente de trânsito mata Mônica e Teresa, mulheres que os dois usavam como escudo de seus casulos fÃsica e geometricamente calculados. A primeira era mãe de Bia, filha que Ênio nunca quis conhecer; e a segunda era namorada de Pedro, que ele havia tirado de um enorme apartamento para viver em seu pequeno quarto-e-sala.
“No man’s an islandâ€, John Donne, poeta inglês, século XVII
Um mundo fechado, pequeno e conhecido é mais fácil de ser controlado e é isso que as profissões dos dois personagens representam para eles. Ênio é um engenheiro de trânsito e Pedro é um construtor de mesas e mestre da sinuca – universos em que a lógica matemática e a ação-reação tornam tudo previsÃvel, manipulável, planejável.
Philippe Barcinski (estreando em longa-metragem) filma isso com frieza e perfeição também matemáticas, explorando a fÃsica na montagem das jogadas de sinuca; e o azul acinzentado, cortado pelas linhas geométricas do traçado de São Paulo, personagem central do filme. É a cidade que permite que as pessoas se cruzem, se encontrem, mas é ela que os isola – especialmente nos enquadramentos em que aparece pela janela separando Ênio e Bia ou Pedro e Lúcia (Sabatella).
“Estranho. Ir para um lugar sem saber onde é. Você já fez isso?â€, Lúcia em “Não por acasoâ€
O diretor acerta na construção visual do longa, usando cores quentes somente em duas cenas – uma com Ênio no bar, experimentando calor humano pela primeira vez; outra com Pedro e Lúcia na cama – mas não demonstra tanta desenvoltura na direção de atores. O único destaque é Leonardo Medeiros, introspectivo e passando uma melancolia angustiante com seu Ênio.
Essa força do ator, associada à montagem do filme que separa as duas linhas narrativas em blocos bem definidos, ressaltados pela distinção na trilha, tornam o longa claramente desequilibrado. Fica um gosto de que “Não por acaso†é, na verdade, a história de Ênio e a trama de Pedro só está ali para encher as 100 páginas de roteiro – ou para botar Rodrigo Santoro de chamariz para um filme pouco comercial. Um deslize desnecessário para um filme que, até então, tinha – quase – tudo em controle.
Ênio, Bia e a cidade que os separa...
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