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Eu, Tu, (Marc)ela

28.06.07

por Daniel Oliveira

Cão sem dono

(Brasil, 2007)

Dir.: Beto Brant e Renato Ciasca
Elenco: Júlio Andrade, Tainá Müller, Marcos Contreras, Janaína Kremer, Roberto Oliveira, Sandra Possani, Churras

Princípio Ativo:
íntimo & familiar

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Ah, as Marcelas...filhas da Catherine de “Jules e Jim†e primas-irmãs da Clementine. As Marcelas são uma injeção de adrenalina que freiam a vida e aceleram o sonho que você vive com elas...Marcelas. Os problemas, as dúvidas, as crises correm à toda lá fora, como na cena de Ciro no ônibus, mas não aqui dentro com ela...Marcela. As Marcelas fazem você jantar lasanha e fumar maconha na casa de pessoas que você nunca viu antes. As Marcelas te empurram de um abismo e você ainda desaba feliz porque cai abraçado com ela...Marcela.

As Marcelas fazem você escutar Snow Patrol e chorar.

Ciro (Júlio Andrade), o gaúcho tradutor de russo de “Cão sem donoâ€, vive intensamente sua Marcela (bela, Tainá Müller), uma modelo que também poderia ser um ótimo disco pop. Ele passa os melhores dias de sua vida no relacionamento com ela durante o lado A, mas visita o inferno e precisa aprender a voltar no lado B.

Como o cachorro Churras, sobre quem Ciro diz “eu não sou dono dele, sou um amigoâ€, todos os personagens do filme são cães sem dono. Assim como Ciro não pode impedir que o cão durma na rua, ele também não pode curar Marcela. E ela não consegue resolver os problemas financeiros e as crises profissionais dele. E os pais não podem evitar que Ciro sofra a separação. Eles aprendem que não se pode controlar ou mudar a vida de outra pessoa porque se quer muito – amar e ser dono, ter poder sobre o outro, são coisas diferentes.

Tudo que se pode fazer para que o “nós†dê certo é cuidar do “eu†e deixar que o “você†se resolva por ele próprio. Relacionamentos não amadurecem pessoas. Elas devem amadurecer para que os relacionamentos dêem certo. E amadurecer, por mais que doa, é um processo que só funciona sozinho – um dia ou outro, o cão vai morrer.

Brant e Ciasca filmam essa ânsia de estar com o outro e “entrar no outro†– a idéia romântica de que “os dois virem um†– nos enquadramentos fechados com os atores muito juntos e sempre em contato físico. Contribui para a familiaridade da história o estilo de Brant, sempre filmando em locação: o apartamento de Ciro, a casa dos pais dele, a boate parecem bastante reais para sujeitos de vinte e poucos anos.

Mais que isso, os sentimentos, as crises, a dor soam familiares. É esse o trunfo de Daniel Galera, que narrou em sua obra uma história que, se não se viveu, ao menos se conhece – o único porém sendo o “Deus Ex Machina†da doença surgida no meio da trama. “Cão sem dono†capta essa “identidade comumâ€, ajudado pelas boas atuações, e acerta ao retratar essa idéia de que “o dia em que o cão morre†pode ser um final ou um novo, e ótimo, começo.

O vagabundo, a dama e o Churrrrrrrras!

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