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Tons e sons

02.07.07

por Isabella Goulart

O despertar de uma paixão

(The painted veil, EUA/China, 2006)

Dir.: John Curran
Elenco: Edward Norton, Naomi Watts, Liev Schreiber, Toby Jones

Princípio Ativo:
Uma visão da arte, uma idéia do amor

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As flores desabrochando e as imagens superpostas nos créditos de abertura já dão uma pista de como o diretor John Curran escolheu contar essa história: pelo arriscado caminho da experimentação. Arriscado porque se o cineasta não dominar os meandros da proposta, o filme (e o público) sofrem as conseqüências. Ainda assim, se o diretor se perde em alguns momentos, ou sua proposta não é tão meticulosa quanto ele quer fazer parecer, o produto final aqui resulta encantador.

Kitty (Naomi Watts) e Walter (Edward Norton) são dois jovens ingleses que se casam pelo motivo errado e logo em seguida vão para Xangai. Quando ela o trai, ele, um bacteriologista, oferece-se para trabalhar como médico em um povoado do interior infectado pela cólera e leva a esposa para viver num caos de epidemia e agitação social – vale dizer, estamos na China de 1925.

A impressão é que Curran tentou oferecer um tour por outras artes enquanto fazia um filme. Uma idéia ambiciosa, mas a delicadeza da história não sobreviveria se contada de outra maneira. É óbvia a preocupação do diretor com a beleza plástica de cada plano e o fotógrafo Stuart Dryburgh cria verdadeiros quadros impressionistas com suas imagens. Nas externas, enquadra sempre que possível a exuberância da natureza em planos abertos; nas internas, a luz e o cenário reafirmam aquela veia artística, enquanto os personagens funcionam como modelos. Os poucos movimentos de câmera são simples - na maior parte do tempo, um quadro imóvel substitui o outro.

Os personagens dançam conforme a música de Alexandre Desplat, que levou o Globo de Ouro pelo trabalho. Com atenção, perceberemos que a trilha conta a história. Sutil durante a viagem de Kitty e Walter até aquele fim de mundo, ela cresce com a dramaticidade das situações. Principalmente na rotina incômoda do casal, na vila, já que um dos grandes focos de tensão do filme é a introspecção do marido, enquanto pune a mulher e a si mesmo.

O mundo entra nos eixos quando o amor vai bem, a trilha se torna leve e o filme ganha um bom-humor inesperado. É como se o roteiro tivesse, de repente, dado um passeio em Hollywood e voltado com um fôlego novo. O que não é exatamente ruim e só desanda mesmo na última e desnecessária seqüência.

À medida que Kitty e Walter descobrem como a paixão é simples, caímos num agradável lugar comum. O amor - que angustia, alivia e, com o tempo, torna-se uma oferta irresistível de redenção - é um dos maiores clichês do cinema. E os clichês, quando bem empregados, valem a pena. Até mesmo em um filme que se pretende tão...arte.

Watts e sua nova profissão: modelo de quadro impressionista.

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