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Hipocondríacos do cabaré

02.09.07

por Braulio Lorentz

Silverchair – Young Modern

(EMI, 2007)

Top 3: “Straight Linesâ€, “Reflections Of A Soundâ€, “Lowâ€.

Princípio Ativo:
mazelas

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Young Modern, quinto CD do Silverchair, comprova que os filhotes do grunge souberam crescer bem, apesar de, em seus 15 anos de história, intercalarem estadas em hospitais, palcos, clínicas e estúdios. Mesmo com cinco anos sem lançamentos, o trio australiano teve a manha de retornar do lugar onde havia parado.

O cabelo loiro de Daniel Johns escureceu e a cara lisa ganhou uma barba rala. Falta um pouco de purpurina e cores no visual, mas a banda acerta a mão ao continuar o percurso meio em ziguezague do trabalho anterior, Diorama. Ziguezague seja por causa da alternância entre faixas mais lentas e rocks de peso, ou devido à extensa ficha médica do vocalista e guitarrista.

A aparência franzina de Johns ficou para trás, junto aos boatos e às verdades sobre seus problemas de saúde (artrite, anorexia, depressão). A saúde está como nunca. A voz, porém, continua como sempre. Um fiapo que não compromete uma sofrida balada (“Straight Linesâ€) ou um sofrível pop de cabaré (“If You Keep Losing Sleepâ€).

Vai lá, Daniel, coloque as mazelas nas letras e tire da sua vida. Se é pro seu bem, então tá beleza. E dá-lhe música sobre dificuldade de dormir (a teatral “Insomniaâ€), pessoas paranóicas (“Those Thieving Birdsâ€) e outro tipo de debilidade que depende da interpretação do paciente (a simples e atrativa “Lowâ€). Sobram ainda citações sobre dependentes químicos, pessoas que respiram por furo no pulmão e seres febris.

O diminuto leque sonoro do Silverchair produziria um ventinho muito do mixuruca. O som tenta fugir do ranço grunge que consagrou a banda. As músicas de Young Modern contêm uma mão-cheia de glam e outra de orquestrações. Os caras acham que, ao menos na música, exagero é o melhor remédio. Eu poderia fazer algum trocadilho com overdose, mas não estou com vontade.

“Reflections Of A Sound†varia um pouco o assunto, ao deixar as enfermidades de fora. No último suspiro da canção, rola até uma seqüência de “uh uh uh’s†tímida e curta, porém contagiante. Eu disse contagiante. Não contagiosa.

Se o pop é uma droga, nós somos a bula. E se nós somos a bula, com certeza o Silverchair ainda nos lerá.

Daniel tem a cara mais achatada do mundo. Medo.

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