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Você é o que você ouve

15.03.08

por Braulio Lorentz

Stephen Malkmus – Real Emotional Trash

(Matador – Importado, 2008)

Top 3: “Gardeniaâ€, “We can’t help you†e “Cold Sonâ€.

Princípio Ativo:
preguiça

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Quando seu termômetro sobe ao som do quarto álbum da carreira solo do ex-líder do Pavement, extinta banda americana que não descarta uma volta em 2009, você já tem um belo esboço de si mesmo.

Eu sou blasé
O vocal lacônico de Stephen Malkmus diz muito. Imagens e situações são empilhadas como nos tempos de seu finado grupo. Frases bobas como “você é apenas um hetero num cruzeiro gay†(de “We can’t help you†) ficam menos idiotas no vocal desajeitado e preguiçoso de Malkmus. Emocionam até. Na mesma canção, ele solta um “não há graça no amor†como se estivesse falando “vou ali comprar jornalâ€. Lindo. Vou ali comprar jornal.

Eu sempre evito o que não gosto
Ter a preguiça como princípio ativo de si mesmo implica em ser mais conciso e direto, mesmo que a desenvoltura às vezes não permita. Os grandiloqüentes geralmente são os mais prolixos. E muitos deles curtem rock progressivo. Por que você acha, então, que meu last.fm indica sem o menor pudor que ouvi menos “Dragonfly pieâ€, “Hopscotch wille†e "Baltimore" do que meu top 3 e "Out of reaches"? Resposta: porque as primeiras são três das mais prog indie rock do álbum. Mas mesmo assim são boas. As baquetadas de Janet Weiss, baterista recrutada da banda de garotas Sleater-Kinney, ficam com grande parte do mérito.

Eu sou uma versão que não deu certo de alguém pior do que eu
No quarto trabalho com o grupo de apoio The Jicks, o cantor e compositor americano faz o mesmo rock lo-fi (de produção pouco pomposa, quase manca) de sempre. Stephen continua alinhado ao indie rock tão seminal quanto Belle & Sebastian (“Gardeniaâ€, com vocais ensolarados da baixista Joanna Bolme e de Janet) e tão pop barulho-silêncio-barulho-silêncio quanto o Weezer (“Cold sonâ€). Quem mais me lembra Stephen Malkmus, no entanto, é o auto-declarado perdedor Beck. Ele é tão esguio e talentoso quanto o ex-Pavement, mas se arrisca muito mais.

Ele é o Malkuns que ouve tropicália, que flerta com a eletrônica (e a leva pra cama). Os clipes de Beck custam mais. Os discos de Beck vendem mais. Acho que estou falando demais. Até o professor dos dois é o mesmo: o produtor Nigel Godrich, parceiro de Beck que mostrou ao apressado Malkums, em ocasiões anteriores, que nem sempre o cru é a melhor opção. Mesmo sendo um Beck de pijama, Stephen Malkmus é um dos pouco que lança discos solo do mesmo nível dos de sua falecida e cultuada banda.

Estou com preguiça de escrever a legenda

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