A balada (desafinada) de Jude e Lucy
28.03.08
por Daniel Oliveira
 |
Across the universe
(EUA, 2007)
Dir.: Julie Taymor
Elenco: Jim Sturgess, Evan Rachel Wood, Joe Anderson, Dana Fuchs, Martin Luther, T.V. Carpio
Princípio Ativo: o coração de Jude & os diamantes do céu de Lucy
|
 |
receite essa matéria para um amigo
Dos resquÃcios dos anos dourados à politização do maio de 68 e dos protestos anti-Vietnã, à psicodelia lisérgica e desencantada dos anos 70. Que a trajetória musical dos Beatles retrata as transformações da juventude da sua época não é nenhuma grande novidade. E nem era necessário um filme: as músicas continuam lá, boas do mesmo jeito, para provar isso.
Não era necessário, mas se fosse bom, ninguém ia reclamar.
Infelizmente, não é o caso de “Across the universeâ€. Se o filme fosse um show dos Beatles, você só encontraria lá o George Harrison. O design de produção arrebatador espelha o virtuosismo técnico do guitarrista, sem o resto dos fab four. Faltam a poesia simples e pop de McCartney no roteiro, o charme e firmeza de Lennon no comando do espetáculo e, Ringo...bem, falta algo ou alguém que não queira desesperadamente aparecer – simplesmente chegue, faça bem seu serviço e vá embora.
Porque o problema de “Across the universe†é que tudo rouba a atenção do grande trunfo do filme: o romance de Jude (Sturgess) e Lucy (Wood) – despretensioso e singelo como uma música dos besouros. Seja o excesso de personagens: uma (sexy) Sadie e um Jojo (Janis Joplin e Jimi Hendrix wannabe’s), além de uma deslocada (dear) Prudence, pertencentes a outro longa. Seja o abuso de números musicais tentando disfarçar a falta de inspiração do roteiro.
Enquanto isso, a quÃmica dos protagonistas e o desenvolvimento de Lucy são prejudicados. Em um momento, ela é a garota alienada do subúrbio, noutro transa no primeiro encontro e quer mudar o mundo. Além disso, o primeiro ato (pré-Nova Iorque) é longo demais e você quase desiste do longa antes da parte boa chegar.
E ela só chega quando, lá pelas tantas, Jude resolve pegar um filme triste e torná-lo melhor. No minuto que ele deixa o espectador entrar em seu coração – partido – é que você começa a se sentir melhor. O olhar de Jim Sturgess consegue ser mais expressivo que os morangos sangrentos da seqüência de Strawberry fields e quase torna Hey Jude melhor do que ela já é.
Até lá, porém, a diretora Julie Taymor - assim como em “Frida†- faz jus visualmente ao legado artÃstico de seu homenageado, mas peca na narrativa. É como alguém com o dom da poesia, que o desperdiça ao escorregar feio na gramática. Isso resulta em uma metragem muito longa (“Across the universe†podia ter meia hora a menos e metade dos musicais); e no pano de fundo histórico das transformações dos anos 60 - a guerra do Vietnã, o Flower Power e a revolução sexual – tendo mais destaque que a trama ficcional.
Não precisava ser um Beatles. Mas também não tinha que ser pior que Oasis.
Mais pÃlulas:
- Paul McCartney
- Filmes de músicos, filmes de música
- Memórias de uma gueixa
- ou Navegue por todas as crÃticas do PÃlula

Hey Jude, refrain, don't carry the movie upon your shoulder...
» leia/escreva comentários (6)
|