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Comer, beber, (se) foder

01.05.08

por Daniel Oliveira

Estômago

(Brasil/Itália, 2007)

Dir.: Marcos Jorge
Elenco: João Miguel, Fabiula Nascimento, Babu Santana, Carlo Briani, Zeca Cenovicz, Paulo Miklos

Princípio Ativo:
comida.

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Não é à toa que, vira-e-mexe, o cinema use a comida como tema – e vice-versa. A mágica operada nas duas artes é muito parecida: vários elementos/ingredientes que não dizem nada sozinhos, mas que somados nas doses certas, por quem entende do métier, formam algo apetitoso e enigmático. O apreciador não entende de fotografia, figurino, edição – ou alecrim, roquefort e champignon – mas sabe dizer se a soma final deles deu certo ou não.

“Estômagoâ€, premiada estréia na direção de Marcos Jorge (melhor filme, diretor e ator no Festival do Rio de 2007), é o exemplar mais recente dessa relação. O prato principal é o ator João Miguel, como Raimundo Nonato, imigrante nordestino (nunca fica muito claro de onde nem pra onde) que ascende na escala social da cidade grande, apoiado no talento que descobre ter na cozinha.

Seu acompanhamento é a estreante Fabiula Nascimento, como a prostituta Ãria, que troca sexo pela comida de Nonato. Os temperos são as direções de fotografia e arte (de Toca Seabra e Jussara Perussolo, respectivamente) bem cuidadas e, principalmente, a bela e super-utilizada trilha musical do italiano Geovanni Venosta, usada sempre que um personagem é encantado pela culinária do protagonista.

“Estômago†mostra, paralelamente, a ascensão de Nonato de bar chinfrim a restaurante italiano – e, na cadeia, de preso novato a ‘beliche de cima’. A estrutura começa interessante, mas o mistério de como o personagem foi parar na prisão tende a ficar óbvio. Adaptado do conto de Lusa Silvestre, que só narra a ‘escalada penitenciária’, o roteiro criou a história prévia de Nonato, recheando-a com discursos didáticos sobre gastronomia - ditos sem nenhuma inspiração pelo ator Carlo Briani, como Giovanni, chefe de Nonato.

Salvam essa parte da história as ótimas atuações de João e Fabiula, que tornam seus personagens ambíguos – ele, um inocente que, ao mesmo tempo, não perde a chance de se dar bem; ela, uma interesseira que não deixa de nutrir um certo carinho pelo cliente-admirador. É essa mistura de “O idiota†de Dostoiévisky, com o protagonista explorado e humilhado por crápulas que só se interessam em sua comida, com elementos narrativos romântico-fabulescos à la “Amelie Poulainâ€, que torna perdoáveis os erros de principiante do mestre-cuca Marcos Jorge.

Sem saber a hora de entrar ou sair de uma cena, ele torna algumas transições do filme artificiais, além de acrescentar um off totalmente desnecessário de Nonato em certas partes do longa. Deslizes que podem desagradar ao paladar mais apurado, mas que não impedem “Estômago†de ser um prato/filme ainda assim bastante saboroso.

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Comer, comer é o melhor para poder crescer.

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